quarta-feira, 30 de março de 2011

ELES ESTÃO VIVOS


Ainda quando não reconheças, de pronto, semelhante verdade, eles te vêem e te escutam!
Quanto possível, seguem-te os passos compartilhando-te problemas e aflições !
Compadece-te dos que te precederam na Grande Renovação !
Aqueles que viste partir de mãos desfalecentes nas tuas, doando-te os derradeiros pensamentos terrestres, através dos
olhos fitos nos teus, não estão mortos.
Entraram em novas dimensões de existência, mas prosseguem de coração vinculado ao teu coração.
Assinalam-te o afeto e agradecem-te a lembrança, no entanto, quase sempre se escoram em tua fé, buscando em ti a
força precisa para a restauração espiritual que demandam.
Muitos deles, ainda inadaptados à vida diferente que são compelidos a facear, pedem serenidade em tua coragem e
apoio em teu amor...
Outros, muitos, jazem mergulhados na bruma da saudade, detidos na sede de reencontro, ante as requisições
continuadas dos teus pensamentos de angústia.
Outros muitos seguem-te ainda...
Aqueles que se despediram de ti, depois de longa existência, abençoando-te a vida,
os que amaste, indicando-lhes o caminho para as esferas superiores,
os que levantaste para a luz da esperança e aqueles outros que socorreste um dia, com o ósculo da amizade e da
beneficência...
Todos te agradecem, estendendo-te os braços no sentido de te auxiliar a transpor as estradas que ainda te cabem
percorrer.
Auxilia aos entes queridos na Espiritualidade, a fim de que te possam auxiliar!
Se lhes recorda a presença e o carinho, preenche o vazio que te impuseram à alma, abraçando o trabalho que terão
deixado por fazer.
Sê a voz que lhes reconforte os seres amados ainda na Terra, a força que lhes execute o serviço de paz e amor que não
terminaram, a luz para aqueles que lhes lastimam a ausência em recantos de sombra, ou o amparo em favor daqueles
que desejariam continuar te sustentando no mundo !
Compadece-te dos entes queridos que te antecederam na Grande Libertação !
Chora, porque a dor é fonte de energias renovadoras por dentro do coração, mas chora trabalhando e servindo,
auxiliando e amando sempre !
E deixa que os corações amados, hoje no Mais Além, te enxuguem as lágrimas, inspirando-te ação e renovação, porque,
no futuro, tê-los-ás a todos positivamente contigo nas alegrias do Novo Despertar.

                                                   EMMANUEL

Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: “Caminho de Volta” - Edição GEEM

terça-feira, 29 de março de 2011

Paz no Lar


Disse Jesus :  ... E em qualquer casa onde entrardes, dizei antes:
“Paz seja nesta casa”  (Lucas 10:5)

Compras na terra o pão e a vestimenta, o calçado e o remédio, menos a paz.
Dar-te-á o dinheiro, residência e conforto, com exceção da tranqüilidade de espírito.
Eis porque nos recomenda Jesus venhamos a dizer, antes de tudo, ao entramos numa
casa: "paz seja nesta casa".
A lição exprime vigoroso apelo à tolerância e ao entendimento.
No limiar do ninho doméstico, unge-te de compreensão e de paciência, a fim de que não
penetres o clima dos teus, à feição de inimigo familiar.
Se alguém está fora do caminho desejável ou se te desgostam arranjos caseiros, mobiliza
a bondade e a cooperação para que o mal se reduza.
Se problemas te preocupam ou apontamentos te humilham, cala os próprios
aborrecimentos, limitando as inquietações.
Recebe a refeição por bênção divina.
Usa portas e janelas, sem estrondos brutais.
Não movas objetos, de arranco.
Foge à gritaria inconveniente.
Atende ao culto da gentileza.
Há quem diga que o lar é ponto do desabafo, o lugar em que a pessoa se desoprime.
Reconhecemos que sim; entretanto, isso não é razão para que ele se torne em praça
onde a criatura se animalize.
Pacifiquemos nossa área individual para que a área dos outros se pacifique.
Todos anelamos a paz do mundo; no entanto, é imperioso não esquecer que a paz do
mundo parte de nós.

Fonte : Nova era

sábado, 26 de março de 2011

Tucumim, o Indiozinho


Lendo uma historinha...

Tucumim era um pequeno índio muito estimado em toda a floresta. Gostava de correr, brincar com os animais, pescar. Caçar só quando estava com muita fome, pois evitava provocar sofrimento em outros seres da Criação.
Alimentava-se geralmente de raízes, ervas ou frutos silvestres que colhia no meio do mato.
Amava o sol, a lua, o vento, a chuva e, principalmente, as outras criaturas.  Quando
encontrava um animalzinho ferido, não descansava enquanto não o visse curado.
Certa  vez,  voltando  de um passeio pela floresta, Tucumim viu um passarinho
preso numa arapuca, com a asinha quebrada. Retirou a ave da arapuca e colocou uma pequena tala, que amarrou com fibra vegetal, para imobilizar a asa. Em poucos dias a avezinha, já curada, partiu, agradecendo ao amigo com lindos trinados pela alegria de poder voar novamente.   
Nesse mesmo dia, andando à procura de raízes comestíveis, Tucumim topou com um coelhinho, seu amigo, que estava numa armadilha com a pata machucada. O indiozinho colocou sobre o ferimento uma pasta feita com ervas, conforme lhe ensinara seu avô, e, em pouco tempo, o coelhinho saiu pulando. Antes de internar-se na floresta, ele se virou como a dizer:
— Obrigado, Tucumim. Você é um amigão!
Na manhã seguinte, quando foi pescar, Tucumim ouviu gemidos de dor. Era uma oncinha caída num buraco preparado como armadilha e que, na queda, tinha se machucado. Incansável, Tucumim fez um curativo na ferida e logo a oncinha corria feliz pela floresta, muito agradecida pela ajuda.
Tucumim, porém, estava preocupado.
Quem estaria colocando aquelas armadilhas na floresta e tirando a paz de seus habitantes? Sentiu medo.
Seu avô sempre dissera que ele deveria ter muito cuidado com o homem branco, que era mau e matava sem piedade, pelo prazer de matar.
Por isso, Tucumim tinha muito medo dos homens brancos.
Na verdade, nunca tinha visto um homem branco. Imaginava-os gigantescos e de fisionomia terrível e assustadora.
Assim, ao encontrar pegadas diferentes no chão, concluiu que só poderiam ser de homem branco, e ficou apavorado.
Contou na aldeia o que estava acontecendo e todos os índios ficaram assustados também. Resolveram sair e procurar essa criatura malvada que estava colocando em pânico os moradores da mata.
Procuraram... procuraram... procuraram...
Estavam cansados de andar quando ouviram uma voz que gritava:
— Socorro! Socorro! Tirem-me daqui!...
Seguindo o som da voz, chegaram até a beira de um grande buraco, no fundo do qual um homem gemia de dor.
Apesar de assustados, de arco e flechas em punho, os índios gritavam satisfeitos:
— Nós o apanhamos! Nós o apanhamos! Vamos acabar com ele!
Porém, Tucumim, que possuía um coração bondoso e sensível, ao ver aquela criatura gemendo de dor, condoído pensou:
“Mas ele não tem a aparência terrível e assustadora que eu imaginava. É igualzinho a nós. Só a roupa é diferente.”
Virando-se para seus irmãos de raça, falou:
— Não podemos matá-lo. Não percebem que ele é uma criatura como nós, que sofre e chora? Vamos, ajudem-me a tirá-lo do buraco. Está ferido e precisando de ajuda.
Com o auxílio de um cipó, os índios retiraram o caçador com todo o cuidado, colocando-o sobre a relva, à sombra de uma árvore.    
 Emocionado, o caçador não parava de agradecer:
— Se não fossem vocês, provavelmente eu morreria dentro daquele buraco. Não sei como lhes agradecer. Percebo agora o mal que fiz colocando todas aquelas armadilhas na floresta. Acabei caindo numa delas e agradeço a Deus por vocês terem me salvado. Como posso retribuir o bem que me fizeram?
Tucumim, porta-voz de toda a tribo, respondeu:
— É fácil. Não coloque mais armadilhas na floresta. Deixe os animais em paz.
O caçador, envergonhado, concordou:
— Nunca mais farei isso, prometo. Agora sei que tive o que merecia. Cada um é responsável por tudo o que faz, e eu mereci essa lição. Perdoem-me. Quero que sejamos amigos.
Percebendo a sinceridade do homem, os índios estenderam-lhe as mãos em sinal de amizade e depois o levaram para a taba.
Nesse dia prepararam uma grande festa para comemorar o acontecimento.
Afinal, todos somos irmãos!

                                               Tia Célia      

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

A Girafinha Gina


Lendo uma historinha ...

Gina era uma pequena girafa, linda e de coração bondoso. Seu corpo, coberto por um pelo curto e sedoso, tinha belas manchas cor de mel que reluziam ao sol.
Todavia, apesar de ser novinha, seu pescoço já era muito longo!
Isso lhe causava problemas com os outros animais da floresta, e encontrava dificuldade em fazer amigos.
Por ser muito grande, os outros bichos menores a discriminavam. Ninguém queria brincar com ela.
Quando ela convidava o coelho para passear, ele dava uma desculpa:
— Agora não posso, Gina. Preciso limpar minha toca.   
Se ela ia à casa do esquilo chamá-lo para brincar, ele respondia:
— Agora não dá, Gina. Tenho que procurar comida. Quem sabe mais tarde?
E assim acontecia com todos que procurava. Depois, andando pela mata, ela os encontrava juntos, brincando de esconder. Então, parou de procurá-los, entendendo que não gostavam dela.
Sentia-se triste e sozinha, mas o que fazer?
Sua mãe, vendo-a tristonha, a consolava:
— Minha filha, se seus amigos não gostam de você pelo seu tamanho, então não merecem sua amizade. 
Certo dia, passeando pela floresta, Gina ouviu um alarido estranho. Andou até descobrir de onde vinha aquele barulho.
Sabem o que era? Eram seus amigos que estavam chorando, desesperados. Ali estava o coelho, o esquilo, a raposa, o sapo, a garça.
Arregalando os olhos de espanto, Gina perguntou:   
— Por que vocês estão chorando? O que aconteceu?
Quando eles a viram ficaram muito felizes.
— Ah, Gina! Ainda bem que você apareceu! Só você para poder nos ajudar! — exclamou o esquilo, aliviado.
E o coelho completou:   
— Estamos perdidos! Saímos para passear e não sabemos mais voltar para casa. Acho que estamos rodando em círculos! Será que você pode nos indicar o rumo que devemos tomar?
Gina sorriu, satisfeita pela oportunidade de ajudar. 
— Claro!
Então, a girafinha esticou seu longo pescoço, olhando em torno, por cima das árvores, e afirmou:
— Vocês devem ir para o norte. Por aqui! — e mostrou com uma das patas dianteiras o rumo que deveriam seguir. Mas, também preciso voltar para casa. Irei com vocês.
Contentes e aliviados, alegremente todo o grupo fez o caminho de volta. Alguns bichinhos estavam cansados e Gina levou-os nas costas.
Eles adoraram passear no lombo da girafinha. E todos queriam, por sua vez, experimentar.
Quando chegaram perto de casa se despediram de Gina, agradecidos.
— Gina, você é muito legal! Obrigado — disse o coelho.
— É. Apesar do seu tamanho, você é uma boa companheira — reconheceu a raposinha.
Tinham aprendido a conhecê-la e agora já gostavam dela.
Gina agradeceu, satisfeita. Sua boa ação surtira efeito.
No dia seguinte, logo cedo, a girafinha acordou com o chamado de seus novos amigos.
— Gina, quer brincar conosco?
                                                                     Tia Célia      

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

O Anjo de Guarda


Lendo uma historinha ...

Gilberto era um menino muito arteiro. Não era mau, mas vivia sempre pregando peças nas pessoas, provocando confusão na escola e assustando os irmãozinhos em casa.
Perto dele, ninguém tinha paz.
Quando entrava num lugar era recebido de má-vontade porque todos já sabiam que alguma ele iria aprontar.   
Dona Dalva, sua mãe, preocupava-se com o comportamento do filho, que não conseguia modificar.
Certo dia, conversando com uma amiga espírita, a mãe de Gilberto desabafou dizendo não estar mais agüentando as reclamações que lhe chegavam de todos os lados: dos vizinhos, da escola, dos parentes e dos amigos.
— Por que não experimenta mandá-lo às aulas de Moral Cristã no Centro Espírita do qual faço parte? — sugeriu a amiga.
— Será que adianta? — retrucou a mãe, em dúvida.
Com um sorriso sereno a amiga ponderou:
— Não custa experimentar! Você nada tem a perder, não é? Verei o que posso fazer.
Dalva pensou um pouco e reconheceu que a amiga Neide tinha razão. Ela era de outra religião, mas na verdade não participava, e seu filho crescia sem nenhum conceito religioso.
— Está bem. Onde fica esse Centro Espírita? — perguntou.
Após anotar o endereço, despediram-se e cada qual foi tratar de sua obrigações.       
No domingo, Dalva levou o garoto pontualmente no horário combinado. Algumas crianças, que já conheciam Gilberto da escola, torceram o nariz ao vê-lo, mas nada disseram.
Nesse dia, a professora Neide iria falar sobre o “Anjo de Guarda”. 
— Vocês sabiam que todos nós temos um Espírito de Luz, alguém interessado em nosso bem-estar e progresso, a quem Deus deu a missão de nos guiar e orientar na vida? — perguntou ela.
Uma das crianças comentou baixinho:
— Então, o Anjo de Guarda do Gilberto deve ser um “diabinho”!
Ouvindo, as outras crianças caíram na risada, e Gilberto reclamou:
— Olha aí, professora, essa menina está dizendo que vivo acompanhado por um “diabinho”!
A professora Neide colocou ordem na sala e repreendeu os alunos pelo desrespeito para com o novo coleguinha. Depois, explicou:
— Em primeiro lugar, é preciso que saibamos que “diabinho” não existe. O que existem são espíritos imperfeitos, ignorantes e que gostam de brincadeiras e de nos causar pequenos aborrecimentos e confusões. São chamados de espíritos “zombeteiros” ou “brincalhões”. Sempre que estão perto de nós, nos fazendo companhia, é sinal que não estamos agindo bem, porque é o nosso pensamento que os atrai. E quando isso acontece, o nosso Anjo de Guarda, que realmente nos ama e deseja o nosso bem, fica muito triste.
Gilberto prestava muita atenção no que a professora dizia. Ela falava de coisas interessantes e que ele desconhecia. Perguntou interessado:
— Quer dizer que existem mesmo “fantasmas”?
Os demais riram, divertidos, e a professora respondeu com seriedade:
— Não propriamente. Existem espíritos de pessoas que já viveram aqui na Terra e que já deixaram o corpo material, desencarnaram, como dizemos. Na verdade, ninguém morre. Somos todos espíritos imortais, criados para o progresso, e Deus, que é nosso Pai, nos dará sempre oportunidades para aprender e evoluir. Aqueles que já deixaram esta vida vão para o mundo espiritual, um outra realidade que coexiste conosco, sem que percebamos. Assim, como na Terra, uns são bons, outros indiferentes, malvados, estudiosos, brincalhões, e assim por diante.
Gilberto meditou um pouco, preocupado, depois perguntou:
— Então, meu avô também continua vivo?!...
— Sim, sem dúvida. E continua gostando de você do mesmo jeito, Gilberto, e certamente acompanha seu desenvolvimento com interesse.
Envergonhado, Gilberto abaixou a cabeça e não disse mais nada.
É que o avô era alguém a quem ele muito amava. Sofrera bastante com a morte do avozinho querido e custara  a aceitar o fato. Agora, sabê-lo vivo causava-lhe    
muita alegria, mas também o deixava apreensivo. Se o avô estava perto dele, não deveria estar gostando do seu comportamento.
Terminada a aula, Gilberto retornou para casa e sua mãezinha já percebeu a mudança no filho.  
Na hora do almoço a irmão mexeu com ele, e Gilberto não reagiu. Não perturbou ninguém nesse dia.
Na hora de dormir, a mãe o acompanhou ao quarto e notou, com surpresa, que ele fazia uma oração, coisa que não fazia parte dos seus hábitos diários.
— Obrigado, Jesus, por esse dia e ajuda-me para que eu seja um menino bonzinho. Ampara o papai, a mamãe e meus irmãozinhos, e que possamos todos viver em paz e alegria. Assim seja.
Sensibilizada, Dalva esperou que ele terminasse a oração e perguntou-lhe:
— Notei você muito pensativo hoje o dia inteiro, meu filho. Aconteceu alguma coisa?
Gilberto contou à mãe tudo o que aprendera na aula de evangelização e concluiu, arregalando os olhos expressivos:
— Já pensou, mamãe, como o vovô deve estar triste comigo? Não quero aborrecê-lo. Quero que se sinta orgulhoso de mim!
Surpresa com tudo o que o filho lhe contara, Dalva concordou com ele, agradecendo mentalmente a Deus o socorro que lhe enviara na pessoa da amiga Neide, tendo os olhos úmidos de emoção.
A partir daquele dia, Dalva também começou a freqüentar a Casa Espírita, reconhecendo a importância do conhecimento espírita nas pessoas e o bem que isso fizera a seu filho e à toda a família. 

                                                                     Tia Célia      

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

A Força do Exemplo


Lendo uma historinha ...

Dora, ou Dorinha, como a chamavam, era menina viva e inteligente, porém tinha um problema: a preguiça.
Detestava qualquer tipo de tarefa, por mais simples que fosse. Para levantar cedo e ir à escola era aquela dificuldade! Alegava-se sempre cansada. Nunca fazia os deveres de casa, passados pela professora, e não estudava para as provas. Por isso, suas notas eram péssimas.
Em casa não colaborava em nada. Se a mãe, com muito carinho, lhe pedisse para arrumar a mesa, à hora da refeição, ela alegava dor de cabeça; ou para varrer a casa, pois estava atarefada, a menina respondia que precisava estudar e fechava-se no quarto. Quando a mamãe necessitava que ela olhasse o nenê, Dorinha reclamava, irritada:
— Tudo eu? Tudo eu?!...
Enfim, Dorinha não sentia prazer em ser útil. Na verdade, só estava contente brincando, passeando, assistindo televisão ou dormindo.
Sua mãe preocupava-se com ela, tentando aconselhá-la, mas sem resultado. Nas preces, a pobre mãe pedia a Deus que a ajudasse, pois temia pelo futuro da filha.
Certo dia, Dora notou que uma pequena casa vizinha da sua, e que permanecera fechada por muitos meses, estava aberta. Uma família mudara-se durante a noite e a menina ficou curiosa para conhecer os novos vizinhos.
Ao voltar da escola, Dorinha viu um garoto sentado num banco, no jardim à frente da casa.
Sorridente, aproximou-se para travar conhecimento com o garoto, satisfeita por ter mais alguém para brincar.
— Olá! — disse, cumprimentando-o. — Como se chama?
— Olavo. E você?
— Dora. Mas todos me chamam de Dorinha.
O menino era muito simpático e atencioso. Dorinha gostou dele. Em pouco tempo, estavam conversando como velhos amigos.
Dorinha logo começou a se queixar da vida. Reclamou da escola, da mãe, dos afazeres domésticos, enfim, de tudo. E, tomando ares de vítima, dizia:
— Já pensou, Olavo? Não basta ser obrigada a levantar cedo para freqüentar uma escola chata, com aulas mais chatas ainda, e, quando chego em casa, exausta, ainda sou obrigada a ajudar minha mãe nas tarefas caseiras! Quem é que agüenta? Estou cansada dessa vida!
Olavo, que a fitava com olhos arregalados e brilhantes, deu um suspiro e exclamou:
— Como invejo você, Dorinha!
— Por quê? Minha vida é horrível e monótona! Eu odeio essa vida! — retrucou a menina, revoltada.
E Olavo falou-lhe com doçura, afirmando:
— Pois acho a sua vida ma-ra-vi-lho-sa!!!...
— É mesmo? — indagou a garota, incrédula.
— É verdade, minha amiga. Eu nunca saio de casa, nem para ir à escola...
— Você não estuda?
— Não, Dorinha. Sou doente e muito fraco. Não posso andar como você. Antes, eu tinha um amigo grande e forte que me levava à escola nos braços, mas depois ele se mudou e não tive mais ninguém que o substituísse. Minha mãe não consegue me carregar. Seria bom se eu tivesse uma cadeira de rodas para me locomover, mas somos pobres e ainda não pudemos comprar uma.
Dorinha, de boca aberta, gaguejou:
— Então, você também não pode brincar na rua? De esconde-esconde, de pular corda, correr e saltar?
— Não. Mas não me queixo...
— O que faz o dia inteiro? Deve ser bem triste sua vida.
— Até que não. Auxilio mamãe naquilo que posso: escolho o arroz, o feijão, limpo verduras, descasco batatas, enxugo a louça. Além disso, minha mãe confecciona pequenos objetos de artesanato para vender e aumentar nossa renda familiar e, quando tem serviço, eu a ajudo nessa tarefa. Também tenho amigos que me fazem companhia e me trazem revistas e livros. Passo horas entretido a ler. Enfim, acho que a minha existência é até muito boa! Conheço pessoas que possuem menos do que eu e cuja vida é bem mais difícil.
Dorinha olhava-o com admiração e respeito. Sentia-se envergonhada das suas reclamações.
Olavo sorriu e completou:
— Sinto falta apenas de poder freqüentar a escola. Gostaria muito de continuar estudando e aprendendo coisas novas. Mas, algum dia, se Deus quiser, eu tenho certeza de que conseguirei. Por isso, Dorinha, agradeça a Jesus tudo o que você tem: um corpo perfeito para poder andar e brincar, inteligência para estudar e aprender, e o amor de uma família.
Dorinha despediu-se do amigo com o pensamento renovado. Ao entrar em casa foi direto para a cozinha e falou, atenciosa:
— Mamãe, eu arrumo a mesa. Depois do almoço, pode deixar que lavo toda a louça e varro o chão. E eu tomo conta do nenê também... 
A mãe, desacostumada daquela boa-vontade toda, perguntou surpresa:
— O que aconteceu, minha filha? Você está doente? Com febre?
Dorinha riu e explicou direitinho:
— Estou bem, mamãe, não se preocupe. Apenas tive um encontro muito interessante.
E, depois de contar à mãe a conversa que teve com o novo amigo Olavo, concluiu:
— A partir de hoje, mamãe, vou procurar realizar minhas tarefas com otimismo e alegria!
Quanto a Olavo, os pais de Dorinha fizeram uma campanha e conseguiram comprar a cadeira de rodas que ele tanto desejava. Além disso, sabendo das dificuldades da família, levaram o garoto a um médico para tentar descobrir, dentro da medicina atualizada, recursos para sua cura.
E logo, era Dorinha, satisfeita e tranqüila, que passava todas as manhãs acompanhando Olavo a caminho da escola, onde juntos iam estudar.   

                                                                    Tia Célia      

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

O Farol Apagado


Lendo uma historinha ...

Numa região muito distante, sobre um alto rochedo, existia um pequeno farol.
Naquele trecho da costa, o mar era muito perigoso, pois havia inúmeros rochedos que poderiam levar as embarcações a desastres, caso não percebessem o perigo a tempo.
Por essa razão foi construído o farol, para que os navios passassem em segurança pelo local.
Mas o pequeno farol vivia descontente. Achava sua vida muito monótona e sentia uma terrível inveja das embarcações que passavam ao longe, rumo a lugares distantes; das gaivotas que  voavam  livres  pelos ares e que poderiam    
conhecer terras estranhas; e, até, das estrelas que contemplava todas as noites brilhando no firmamento.
Mas ele vivia ali, parado, sem sair do lugar, dia após dia, noite após noite.
Sua única distração era esperar o faroleiro, isto é, o homem que cuidava dele, que todos os dias, ao anoitecer, vinha acender sua luz. E então, ele ficava ali, girando... girando... girando...
O faroleiro vivia sozinho e era a única pessoa que existia nas imediações. Certo dia, ele caiu doente na cama, ardendo em febre e sem condições de se levantar e executar suas obrigações costumeiras.
Naquela noite ninguém acendeu a luz do farol.
O farol estranhou o acontecimento, pois nunca antes ocorrera tal coisa, e estranhou ainda mais a escuridão que tomou conta de tudo. Ficou tudo escuro... escuro...
Naquela noite, nuvens pesadas cobriam o céu prenunciando tempestade, e logo um vento forte começou a soprar. Em pouco tempo a chuva caiu, torrencial.
Sem poder enxergar nada, só escutando o barulho da chuva que caía e o ruído das ondas do  mar  que  faziam  chuá...  chuá...chuá..., o
farol acabou adormecendo.  No dia seguinte, aos primeiros raios do sol é que pôde ver o que acontecera durante a noite.
Uma canoa fora arrastada pelas ondas do mar, batendo de encontro aos rochedos; um barco de pescadores acostumados com o farol que lhes indicava o caminho, bateram nas pedras, soçobrando. E até um grande navio, que fazia sua rota para terras distantes, também ficou preso entre os rochedos, sem possibilidade de sair.
Só então o pequeno farol, ao ver a extensão da tragédia que acontecera pela falta da sua luz, percebeu como sua tarefa era importante.
As pessoas foram socorridas a tempo, e o faroleiro, levado a um hospital para receber o necessário atendimento médico.
Em seu lugar, porém, ficou um substituto, outra pessoa responsável para acender a luz do farol, enquanto o faroleiro não estivesse curado e pronto para voltar ao trabalho.
A partir desse dia, o farol nunca mais lamentou seu destino, cumprindo sua tarefa com boa-vontade e amor.
Feliz, todas as noites ele podia ser visto girando... girando... girando...
E quem o visse, de longe, poderia notar que sua luz se tornara mais viva e mais brilhante.

                                                                    Tia Célia      

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

O sonho da Esperança


Lendo uma historinha ...

Clarindo era um menino para quem as dificuldades da vida chegaram cedo. Desde tenra idade viu-se, por contingências alheias à sua vontade, obrigado a lutar pela própria sobrevivência.
Morava numa pequena casa nos arrabaldes da cidade que, embora humilde, era um verdadeiro lar, pois ali existia o amor e a paz.
Quando seu pai desencarnou, vitimado por um acidente de trabalho, tudo mudou na vida de Clarindo.
Não contando mais com a presença e o amparo do pai, que trazia sempre o necessário para o sustento da família, a situação tornou-se muito difícil. Sua mãe foi obrigada a deixar o lar para trabalhar numa casa rica, e ele, Clarindo, também resolveu trabalhar de engraxate para ajudar nas despesas.
Como não tivessem com que pagar o aluguel da pequena casa, eles foram obrigados a mudar para uma favela, onde a generosidade de alguém lhes conseguiu um barraco.
Ao chegar na favela, o ambiente diferente e hostil causou infinita tristeza e angústia à pobre mulher que, intimamente, entrou a conversar com Deus:
 “Oh! Senhor, o que será de meu filho? Obrigado a crescer neste ambiente, a conviver com criaturas de baixo nível moral, poderá vir a se tornar um delinqüente! Ajuda-me! Sinto-me tão sozinha desde que meu querido esposo morreu! Mas, confio no Senhor e sei que não me deixarás ao desamparo”.
Naquela noite, já instalados na favela, a mãe adormeceu chorando escondida para que o filho não percebesse suas lágrimas de tristeza e dor.
No dia seguinte, logo que os primeiros raios de sol invadiram o pequeno e miserável barraco pelas frestas da parede, a mãe levantou-se para preparar o café da manhã. Leite não tinha. Nem café. Só um pouco de chá e um pedaço de pão duro.      
Clarindo acordou bem disposto. Percebeu pelo rosto da mãe, inchado de tanto chorar, que ela estava sofrendo bastante.
Satisfeito e sorridente o menino contou:
— Mãe, eu tive um lindo sonho esta noite.
Procurando demonstrar interesse, ela pediu:
— Conte-me, meu filho. Que lindo sonho foi esse?
— Sonhei que estava num lugar muito bonito, todo cheio de flores luminosas, quando vi meu pai que se aproximava. Abraçou-me com carinho e disse-me que tivesse confiança em Deus.
“Sabe, meu filho — disse ele —, nada acontece por acaso. Numa outra existência você e sua mãe, por ambição, prejudicaram muito um seu irmão. Vocês roubaram tudo o que ele tinha e o deixaram na rua da amargura. Sem um lar, maltrapilho, seu irmão vagou por longo tempo vivendo da piedade alheia, até que ficou doente e morreu. É por isso que agora estão passando por tantas dificuldades. Confiem em Deus e suportem as privações com resignação, pois será a libertação de vocês. O Senhor é muito bom e não deixará de assisti-los”.
Surpresa e muito comovida, a mãe de Clarindo deixou que as lágrimas corressem pelo seu rosto. E o garoto, também com os olhos úmidos da emoção que ainda sentia, continuou:
— Engraçado, mãe, é que, enquanto meu pai falava, eu via as cenas que ele descrevia como se fosse um filme. E sabe o que mais? Eu senti que meu pai era aquele irmão que nós prejudicamos! Será que é verdade?
A mãe olhou o filho com carinho e, comovida, falou:
— Meu filho, esta é a resposta de Deus às minhas preces. Atendeu às minhas íntimas indagações através do sonho de uma criança. Sim, Clarindo. Acredito que tudo isso seja verdade. Devemos ter prejudicado muito alguém para que estejamos agora passando por essa provação.
Limpando as lágrimas, fitou o filho com determinação e coragem, e disse-lhe resoluta:
— Vamos vencer, meu filho. Tenhamos bom-ânimo, coragem e muita fé em Deus que é pai e, tenho certeza, não nos deixará ao desamparo.
Clarindo sorriu feliz ao perceber que sua mãe estava mais contente e conformada.
Nesse instante alguém bate à porta. Clarindo vai atender e se depara com uma mulher pobremente vestida, mas com largo sorriso no rosto simpático. Disse a visitante:
— Olá! Sou Cecília, sua vizinha aqui do lado. Como vocês se mudaram ontem e não tiveram tempo de ajeitar as coisas, trouxe-lhes um pão quentinho que acabou de sair do forno, e uma garrafa com café.
Antes que a mãe de Clarindo tivesse tempo de agradecer a bondade da vizinha, eles viram chegar uma menina franzina, de dez anos mais ou menos, que lhe estendeu uma pequena lata com linda flor plantada:
— Tome, é para a senhora. Fui eu que plantei.
Logo em seguida, surgiu na porta o rosto moreno de um homem que lhe perguntou, sorridente:
— A senhora gosta de chuchu? Trouxe-lhe alguns que colhi agora mesmo no meu quintal.
Sentindo um nó na garganta, e sob forte emoção, a mãe de Clarindo abraçou os estranhos que lhe invadiam a casa como um raio de sol, enquanto pensava que tinha julgado mal as pessoas da favela, e compreendeu que todos os lugares e todas as pessoas são de Deus. Que, em qualquer situação a que formos chamados a viver, encontramos pessoas boas e podemos crescer e evoluir.
E, agradecendo ao Alto as bênçãos do momento, exclamou, sorridente:
— Obrigada. Sejam bem-vindos! Foi Jesus que os enviou!

                                             Tia Célia    

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

O Sonho de Laurinho


Lendo uma historinha ...

Laurinho tinha apenas oito anos, mas era muito vivo e inteligente.
Certo dia, na escola, ele ouviu a professora falar sobre a existência da “alma” explicando que ela é imortal e, por isso, já existia antes desta vida e continuaria existindo após a morte do corpo. Para finalizar, a professora, que era espírita, completou:
— O sono é um estado muito parecido ao da morte, porque o espírito se desprende do corpo e vai para onde quiser. A diferença é que, do sono, acordamos todas as manhãs; e, quando ocorre a morte do corpo material, o espírito não volta mais a habitar aquele corpo de carne.
Laurinho escutou com muita atenção e ficou preocupado com as palavras da professora.
Na verdade, não entendia direito como isso poderia acontecer. Aliás, nem sabia se acreditava em “espírito”.
— Será que temos mesmo uma alma ou espírito? — perguntou.
— Nós não temos uma alma ou espírito, Laurinho. “Nós somos” o espírito — respondeu a professora.
Laurinho estava surpreso. Ele nunca ouvira ninguém falar sobre esse assunto!
Assim, voltou pensativo e cheio de dúvidas para casa, e o resto do dia não conseguiu pensar em outra coisa.
À noite, fez uma pequena oração para Jesus, que a mãe ensinara, e deitou-se. Não demorou muito, estava dormindo.                        
Algum tempo depois, Laurinho acordou. Sentiu sede e levantou-se para beber água.
Reconhecia-se mais leve, bem disposto. Ao olhar para o leito, levou um susto. Viu um outro Laurinho dormindo.
Como poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo?!...
Lembrou-se, então, do que a professora havia ensinado.
— Que legal! Então, este é meu corpo espiritual e estou fora do corpo de carne!
Achando graça da situação, saiu do quarto e caminhou pela casa. Seus pais ainda estavam acordados e Laurinho viu a mãe fazendo tricô e o pai lendo um livro em sua cadeira de balanço preferida.
Foi até a cozinha beber água, mas não conseguiu segurar o copo, pois sua mão passava por ele sem conseguir pegá-lo.
Viu seu gatinho Xuxu que estava ronronando num canto da cozinha e resolveu brincar com ele.
— Xuxu! Xuxu! — chamou.
O gatinho acordou, sonolento. Laurinho aproximou-se e passou as mãos no animalzinho que, eriçando os pêlos, miou e correu a esconder-se no quarto de despejo no meio de um monte de roupas, como se estivesse com medo.
Laurinho resolveu deixar Xuxu em paz e voltar para o quarto.
Ao passar pela sala, viu o vovô Carlos ao lado de sua mãe. O avô, sorridente, disse:
— Cuide de sua mãe para mim, Laurinho. Diga a ela que estou muito bem.
O menino, já com sono, voltou para o quarto e deitou-se.
No dia seguinte, Laurinho despertou cedo para ir à escola. Trocou de roupa e foi até a cozinha onde sua mãe acabava de preparar o café.
Sentaram-se. A senhora comentou, enquanto colocava café na xícara:
— Que estranho! Não sei onde está o seu gatinho. Sempre que sentamos à mesa para as refeições, Xuxu se aproxima para ganhar alguma coisa. Estou acordada há horas e ele ainda não apareceu.
Naquele momento, Laurinho lembrou-se do sonho que tivera e afirmou:
— Eu sei onde ele está.
Levantou-se, foi até o quarto de despejo, abriu a porta e Xuxu saiu se espreguiçando todo.
— Como você sabia que ele estava lá? — Perguntou o pai, curioso.
Laurinho contou o sonho que teve à noite, deixando os pais surpresos. Depois continuou:
— E tem mais. O vovô Carlos, que estava na sala ao seu lado, mamãe, pediu-me que cuidasse de você e que lhe dissesse que ele está muito bem.
Emocionada, a senhora, cujo pai tinha morrido há alguns meses, exclamou:
— Mas, seu avô Carlos já morreu, meu filho!
— Pois eu o vi bem vivo, mamãe. E nem me lembrei que ele já estava morto.
Os pais de Laurinho não continham a satisfação e se abraçaram, percebendo que algo de muito grandioso ocorrera àquela noite.
Eles, que não acreditavam em nada, sentiam agora uma nova esperança em seus corações, graças ao sonho de seu filho Laurinho.
E o menino, de olhos arregalados, disse:
— E não é que minha professora tem razão? A morte não existe!...

                                                 Tia Célia
    
Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

A Tartaruga Mensageira


Lendo uma historinha ...

Um dia, há muito tempo atrás, os animais habitantes de uma grande floresta ficaram sabendo que um grupo de homens pretendia derrubar todas as árvores para transformá-las em madeira.
Apavorados, pois isso representaria a destruição deles também, resolveram mandar uma mensagem pedindo socorro a um grupo de pessoas amigas e amantes da natureza.
Os bichos se reuniram para decidir quem seria o portador da mensagem, pois era uma missão muito importante, e o local para onde teriam que ir ficava muito, muito distante.
Apresentaram-se para a tarefa: um passarinho, um esquilo, um macaco e uma tartaruga.
– Eu sou o melhor – disse o passarinho estufando o peito –, porque posso voar e,  rapidamente, dar conta do recado.
O esquilo alisou o pêlo macio e falou, orgulhoso:
– Eu tenho mais condições de cumprir a missão, porque sou rápido e ágil!
O macaco, coçando a cabeça, afirmou:
– Não! Eu sou o mais indicado porque, pulando de galho em galho chegarei mais depressa ao destino.
Todos riram quando a pequena tartaruga se apresentou. Afinal, tinham urgência que a mensagem fosse entregue rápido, e a tartaruga era, reconhecidamente, muito lenta.
Depois que as risadas se acalmaram, o leão perguntou:
– Por que é que você acha que tem condições de ser a portadora?
– Porque tenho confiança em Deus que o conseguirei! – respondeu a tartaruga com serenidade.
Após muito discutir, os animais decidiram, muito sabiamente, que para maior segurança, todos os quatro levariam uma mensagem igual. Aquele que chegasse primeiro, teria a honra de entregá-la.
E assim, numa bela manhã de Sol, partiram os mensageiros levando as esperanças e a confiança de todos os animais.
O esquilo saiu aos pulos, ligeiro; o passarinho abriu as asas e voou rápido pelo céu; o macaco, pulando de árvore em árvore, lá se foi a perder de vista. Só a pobre tartaruga iniciou a jornada com sua marcha lenta, para chacota dos demais.
Enfrentaram perigos e obstáculos. Tão logo terminaram as árvores, o macaco teve que continuar também pelo solo.
A certa altura do caminho ocorreu um grande desmoronamento de terras e, como não quisessem se abrigar para não interromper a marcha, o macaco e o esquilo foram atingidos e não puderam prosseguir.
O passarinho passou voando sem maiores dificuldades, mas a tartaruga, vendo o perigo, com tranqüilidade escondeu-se na sua carapaça esperando-o passar.
Mais adiante, sobreveio terrível tempestade, e o passarinho, não obstante se agarrasse às árvores para se proteger, foi arrastado pelo vento forte. A tartaruga, porém, novamente parou sua caminhada, escondendo-se em sua carapaça do furor do temporal, esperando o tempo melhorar. Depois, prosseguiu sua jornada.
Em conseqüência das fortes chuvas, regiões ficaram totalmente inundadas, mas a corajosa tartaruga não desanimou.
Guardando muito bem a carta para que não molhasse, prosseguiu nadando.
E assim, vencendo dificuldades enormes, perigos inesperados e obstáculos difíceis, a tartaruga chegou ao seu destino. Ali ficou sabendo, muito surpresa, que era a primeira a chegar!
Sentiu-se orgulhosa e satisfeita, pois foi cumprimentada por todos, como se fosse uma heroína.
E voltou para casa com os amigos que iriam protegê-los e evitar a destruição da floresta.
Carregada nos braços, ela chegou coberta de glória, para espanto dos animais, que nunca poderiam imaginar que a pequena tartaruga cumpriria missão tão importante.
Os animais então perceberam que todas as criaturas merecem respeito e consideração, e que todos têm condições de vencer. Que, muitas vezes, não são as criaturas que parecem ter as melhores condições que vencem, mas aquelas que se utilizam melhor das possibilidades que possuem.
Perguntaram então à tartaruga, a que ela atribuía sua vitória.
– Creio que sem PACIÊNCIA, PERSISTÊNCIA, CORAGEM e muita FÉ, eu não poderia ter vencido – respondeu ela.
E concluiu com tranqüilidade:
– SÓ ASSIM VENCEREMOS!
          
                                                    TIA CÉLIA

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

A baleia Azul



Lendo uma historinha ...

Ela nasceu grande e forte.
Desde recém-nascida era muito maior do que os outros habitantes das profundezas do oceano.
Afinal, era um baleia. Uma linda baleia azul!
Mas  Balofa,  como  seus  amigos peixes a chamavam, não conseguia brincar e se divertir como todos os outros seres do mar por causa do seu tamanho.
Com o passar do tempo, como só conseguisse brincar com as outras baleias iguais a ela, começou a desenvolver dentro de si um enorme desprezo pelas outras criaturas, fossem peixes, moluscos ou crustáceos.
Considerava-os pequenos e insignificantes, e o orgulho pelo seu tamanho e beleza tomou conta do seu coração. Quando eles se aproximavam querendo brincar, ou apenas conversar, ela respondia altaneira:
– Não se enxergam? Vejam o meu tamanho e vejam o de vocês! Vão procurar sua turma que eu tenho mais o que fazer.
E como muitos seres do mar se afastassem à sua aproximação temendo ser esmagados por ela, Balofa acreditou-se verdadeiramente invencível e auto-suficiente, afirmando convicta e cheia de orgulho:
– Eu sou forte e poderosa. Não preciso de ninguém.
Certo dia, contudo, passeando com sua mamãe, afastou-se do cardume encantada com a beleza de alguns corais que vira ao longe.
Aquela região era absolutamente desconhecida para ela.
Não se preocupou, porém. Era grande e sabia se defender. Não havia morador das profundezas do mar que pudesse vencê-la. Quanto ao caminho de casa, logo o encontraria. Era só questão de tempo. Com sua inteligência e sua força não tinha medo de nada.
Assim pensando, Balofa percorreu enormes distâncias sem saber para que lado estava indo. Já estava cansada quando, sem perceber, aproximou-se muito de uma praia e ficou presa num banco de areia. Lutou bastante, debateu-se, suplicando ajuda:
– Socorro! Socorro! Estou presa e não posso sair! Socorro! Acudam!
Mas, qual! Aquela era uma praia quase deserta e dificilmente passava alguém.
Há horas estava fora da água, sob o sol inclemente. Exausta de lutar, sentia-se cada vez mais fraca.
Ninguém atendia às suas súplicas e a pobre baleia azul pensou que era o fim. Morreria ali, sem socorro e longe da família.
Chorou, chorou muito. Desesperou-se e compreendeu, finalmente, que não era tão auto-suficiente como sempre acreditara. E que o seu tamanho, aquele enorme corpo do qual sempre se orgulhara, era justamente a razão de estar presa no banco de areia.
Com lágrimas nos olhos, lamentava-se:
– Ah! Se eu fosse pequenina como os outros peixes não estaria agora nesta situação.
Meditou bastante e decidiu que, se conseguisse se salvar, seria diferente e não desprezaria ninguém. Deixaria de ser tão orgulhosa e faria amizade com todo mundo.
Algumas horas depois passou um garoto pela praia. Vendo-a, gritou encantado:
– Uma baleia azul! E parece que está encalhada, pobrezinha. Vou buscar ajuda.
Se fosse em outra época, Balofa reviraria os olhos com desprezo, não acreditando que uma criatura tão insignificante pudesse ser de alguma utilidade. Agora, porém, era diferente. Agradeceu a Deus pelo auxílio que lhe mandava na pessoa de uma criança tão pequena.
Logo depois o menino voltou com o pai e algumas pessoas das redondezas. Com grande esforço, aproveitando a subida da maré, conseguiram finalmente soltar a pequena baleia, que sumiu nas águas, toda feliz.
Um pouco adiante, encontrou sua mãe, muito preocupada, que a procurava sem descanso. Ufa! Que alívio!
Naquele dia, no fundo do mar houve grande festa, e os peixes ficaram admirados de serem convidados por Balofa. E, mais ainda, de serem recebidos com muito carinho e atenção pela linda baleia azul, toda sorridente e gentil.
                                                            TIA CÉLIA

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Carrossel


Lendo uma historinha ...

Fernando era um menino muito pobre. De família humilde, suas dificuldades eram imensas, pois muitas vezes em sua casa faltava até o que comer.
Mas Fernando possuía um coração muito bom, era alegre e prestativo, e o pouco que ele tinha repartia com os outros.
Era entregador numa loja, cujo dono resolvera ajudá-lo apenas para que não ficasse na rua. Seu “salário” era muito pequeno. Na verdade, resumia-se às gorjetas que as pessoas de boa-vontade lhe davam pela sua ajuda.
Um dia voltava ele para casa e aquele tinha sido um dia de pouco movimento; ganhara apenas algumas moedas.
Era quase noite. Passando defronte de uma linda vitrine de confeitaria, ficou parado olhando os doces que ali estavam expostos.
Ouviu um suspiro fundo vindo do seu lado. Virou-se e viu uma garotinha que, de olhos arregalados, fitava um enorme pedaço de bolo com cobertura de chocolate.
A menina, maltrapilha, tinha o aspecto pálido e doentio de quem não se alimentava há muitas horas. Condoído da situação da garota, Fernando perguntou:
— Você está com fome?
Ela balançou a cabeça, concordando, sem tirar os olhos do bolo.
Fernando enfiou a mão no bolso consultando seus magros recursos.
Ele também estava com fome. Porém, certamente em casa sua mãe o estaria esperando com um prato de sopa quente e um pedaço de pão.
Gostaria de comprar alguma coisa para ele, Fernando, com aquele dinheiro que lhe custara tanto ganhar, mas a pequena parecia tão faminta!
Resolveu-se. Entrou na confeitaria, pegou o pedaço de bolo e orgulhosamente, por ter podido comprá-lo com o “seu dinheiro”, ofereceu-o à pequena maltrapilha com amplo sorriso.
O olhar de alegria da menina foi suficiente para recompensá-lo.
Satisfeito, tomou o caminho para seu lar. Próximo de sua casa viu as luzes de um parque de diversões que haviam montado naquele dia.
A música, as luzes e o movimento de pessoas atraíram a atenção de Fernando.
Adorava parque de diversões com seus brinquedos e sua música. Principalmente o carrossel, com os cavalinhos que subiam e desciam rodando sempre ao som de uma música, o encantava.
Ficou parado, olhando. Como gostaria de andar naquele carrossel!  Mas,  infelizmente, não tinha mais moedas.
O preço de um  ingresso para uma volta no brinquedo era o mesmo que gastara o pedaço de bolo pára a pequena mendiga. Se não tivesse comprado o doce, agora teria o dinheiro para dar uma volta no carrossel.
Lembrou-se, porém, do rostinho sujo e satisfeito da menina e afastou esse pensamento egoísta da sua cabeça.
“Não tem importância” — pensou — “Mamãe sempre me disse que tudo aquilo que fizermos aos outros, Deus nos dará em dobro. Está, portanto, bem empregado o meu dinheiro”.
Nisso, percebeu um garoto muito bem vestido a seu lado, chupando um sorvete. Vendo Fernando olhar o carrossel, perguntou:
— Quer andar de cavalinho?
— Quero. Mas não tenho dinheiro — respondeu.
O garoto estendeu-lhe dois bilhetes dizendo, indiferente:
— Tome.
— Mas não tenho com que pagar! — gaguejou Fernando.
— Não tem importância. Já estou cansado desses brinquedos. Meu pai é dono desse parque e tenho sempre quantos bilhetes quiser.
Agradecendo, Fernando fitou os bilhetes com os olhos úmidos de emoção, enquanto dizia para si mesmo:
— Minha mãe tinha razão. Eu sabia que Deus ia me retribuir, mas não pensei que fosse tão rápido.
                                                       
                                                         TIA CÉLIA

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

Resposta de Deus


Lendo uma historinha ...

Jandira, uma menina de oito anos de idade, desde muito pequena se acostumara a passar por toda sorte de privações.
Não conhecera o pai, e a mãe a abandonara quando tinha pouco mais de quatro anos. Uma vizinha, apiedando-se dela, levou-a para casa.
Mas a vizinha tinha muitos filhos e logo Jandira percebeu que não poderia morar ali, que não era bem-vinda.
Com cinco anos saiu da casa que a acolhera, cansada de apanhar, e foi para a rua, acompanhando umas crianças que conheceu e que também não tinham família. Assim, Jandira foi morar com os novos amigos num casebre abandonado.
Aprendeu a pedir esmolas para poder sobreviver. Comia do que lhe davam. Apesar de todas as dificuldades da sua curta vida, Jandira jamais foi uma criança revoltada. Tinha o coração amoroso e bom, e todos a estimavam. Acreditava em Deus e tinha certeza de que Ele não a deixaria desamparada, conforme ouviu alguém ensinar certa vez.
Certo dia, enquanto pedia esmola na cidade, Jandira viu aproximar-se um homem de aspecto distinto, muito bem-vestido.
– Por caridade, uma esmola! – pediu.
Ouvindo a voz da criança, Manoel olhou e viu uma menina de rostinho sujo, roupas rasgadas, que o fitava com grandes olhos vivos e confiantes. Como estivesse com pressa, deu uma moeda sem se deter.
No dia seguinte, encontrou a garota no mesmo lugar. Ela sorriu e estendeu a mãozinha pedindo uma esmola. Novamente Manoel deu uma moeda, contra seus hábitos, e ouviu o agradecimento da menina.
– Que Deus o abençoe e que nunca lhe falte nada.
Impressionado, seguiu adiante com passos rápidos, mas não conseguiu esquecer o rostinho da garota durante todo o dia.
Na manhã seguinte, lá estava ela no mesmo lugar. A menina aproximou-se dele com uma florzinha na mão, sorridente.
– É sua. Trouxe para o senhor.
Surpreso, Manoel sentiu necessidade de parar para conversar.
– Como se chama? – perguntou.
– Jandira.
– Quantos anos tem, Jandira?   

– Acho que tenho oito ou nove anos, senhor. Não sei ao certo.
– Não vai à escola? – indagou ele.
– Não. Nunca pude estudar, apesar de ter muita vontade de aprender a ler e a escrever.
– Onde você mora, Jandira? – perguntou, impressionado.
– Num barraco, com outras crianças.
– Por quê? Não tem família?
– Minha mãe foi embora quando eu era muito pequena. Tenho apenas pai.
– Como se chama seu pai? – quis saber ele.
A menina respondeu com seriedade.
– Deus.
– Deus? Esse é o nome do seu pai? – ele perguntou, pensando não ter entendido direito.
– Sim. Deus não é o Pai de todo mundo? – respondeu ela com simplicidade.
– Ah! É verdade.
– Então, Ele não deixa que me falte nada. Tenho tudo do que preciso. Um teto para me abrigar da chuva e do frio, tomo banho num chafariz e, quando sinto fome, peço uma esmola e ganho dinheiro para comprar o que comer. Às vezes ganho comida e nem preciso pedir esmolas, e ainda posso repartir com os outros o que recebo.
Sensibilizado, Manoel perguntou:
– O que mais você gostaria de ter, Jandira?
– Nada. Eu não preciso de nada.
– Diga. Gostaria de poder ajudar – insistiu Manoel.
A menina pensou um pouco e, com os olhos rasos d’água, respondeu baixinho:
– Gostaria de ter uma família de verdade.
Manoel sentiu um aperto no coração e as lágrimas afloraram em seus olhos. Sentia-se culpado. Era rico, tinha tudo. Uma casa grande, emprego bom e não tinha filhos. Morava apenas com a esposa e nunca pensara em ajudar ninguém. E aquela criança pedia tão pouco da vida!
Tomou uma resolução. Sua esposa sempre quisera filhos e iria gostar.
Fitou a menina à sua frente, e disse:
– Agora tudo vai ser diferente, Jandira. Deus, apesar de dar-lhe tudo, como você afirmou, encarregou-me de ser seu pai aqui na Terra. Aceita? Além de um pai, terá também uma mãe.
Sem poder acreditar em tamanha felicidade, Jandira pulou nos braços de Manoel, cheia de alegria.
– Deus o mandou? Aceito! Eu sabia que ele não deixaria de atender às minhas preces. Antes de dormir – explicou – sempre pedia ao Pai do Céu que me dê um pai de verdade aqui na Terra.
Nesse momento, Jandira lembrou-se dos companheiros:
– Ah!...E meus amigos? Não posso abandoná-los!
– Não irá abandoná-los, Jandira. Como minha filha, terá condições de ajudá-los. Tenho dinheiro. Arrumaremos uma casa de verdade, alguém que tome conta deles e terão tempo de estudar para serem mais tarde criaturas dignas e úteis à sociedade.
A menina batia palmas de alegria.
– Que bom! Que bom!
Em seguida, olhou Manoel com muito carinho e, segurando a mão dele, perguntou:
– Posso chamá-lo de papai?                                                                  
            
                                                                                                        
                        TIA CÉLIA

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

A Descoberta


Lendo uma historinha ...

Toninho, de nove anos, era um menino diferente e, por isso, causava muitas preocupações aos seus pais.
Freqüentava a escola, mas não gostava de estudar e apresentava dificuldades em acompanhar a classe.
Apreensivos com seu futuro, os pais tentavam de todas as maneiras fazer com que Toninho se interessasse por alguma coisa. Mas, qual nada! Ele gostava mesmo era de brincar.
À medida que o tempo passava, os pais do menino ficavam cada vez mais aflitos. Já haviam tentado de tudo.
Procuraram despertar-lhe interesse pela música. Foi um desastre. Piano, Toninho não tinha paciência para suportar os monótonos exercícios. Violão, ele ficava irritado e colocava tanta força no manejo que em pouco tempo arrebentava as cordas. Violino, nem pensar. Bateria, ele não gostava de barulho. Enfim, para a música, não tinha vocação, nem ritmo e nem sensibilidade, deixando os professores desanimados.
— Já que você não tem tendência para a música, meu filho, quem sabe uma outra arte? A pintura, por exemplo. Veja o exemplo dos grandes gênios da pintura. É fascinante!
— Está bem. Vou tentar.
Mas, qual! Toninho não conseguia lidar com os pincéis nem com a mistura das cores. Ficava entediado, e logo desistiu.
— Se você não gosta de estudar, nem de música ou de pintura, quem sabe se interessa por algum esporte? Poderia talvez jogar futebol!  — considerou a mãezinha dedicada.
— Nem pensar. Gosto de assistir jogo, mas não de correr atrás de uma bola.
— Bem, talvez então alguma modalidade de atletismo?
— Corrida, salto em distância, arremesso de peso... nada disso faz o meu gênero.
— Tênis?
— Nem pensar.
— Talvez vôlei?
— Não tenho altura suficiente.
— Natação?
— Gosto de ir à piscina, mas entro na água apenas para refrescar o corpo do calor do sol.
— Basquete?
— Não tenho pontaria.
Enfim, tentaram todas as modalidades de esporte. Nada.
Os pais, cada vez mais preocupados. Toninho contava agora quinze anos. Crescera, transformando-se num rapaz alto e magro. Porém ainda não descobrira nada que o interessasse.
Experimentaram a informática, mas ele usava o computador apenas para divertir-se com os jogos.
A mãe de Toninho estava cada vez mais aflita, mas o pai insistia em afirmar:
— Fique calma, querida. Todas as pessoas têm habilidade ou tendência para alguma coisa. Nosso filho não é diferente. Ele vai acabar descobrindo do que gosta.
— Será? Tenho pedido tanto a Deus que ilumine nosso filho! — dizia a mãezinha um tanto desanimada.
Certo dia, Toninho encontrava-se passeando num parque. Sentou-se à borda do lago e pôs-se a pensar. Aquela situação também não era agradável para ele. Tinha vontade de fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Nesse momento, lembrou-se de Deus e orou com fervor suplicando ajuda e proteção. Sentia-se inútil e sem objetivos na vida. Abaixou a cabeça e chorou sentidamente.
Sentiu-se mais reconfortado. De repente, Toninho olhou em torno e viu um pedaço de madeira ali perto. Teve o impulso de pegá-lo nas mãos. Revirou-o para todos os lados, observando-o. Interessante! Pareceu-lhe ver a imagem de um pássaro de asas fechadas naquela madeira. No mesmo instante, Toninho pegou um canivete de estimação que trazia sempre no bolso, e começou a trabalhar.
Com habilidade, esculpiu a cabeça, colocou os olhos no lugar, trabalhou as asas. Depois, modelou as pernas e os pés, que se apoiavam num pedaço de galho.
Toninho não viu o tempo passar. Quando terminou, ele ficou extasiado diante da pequena escultura, obra de suas mãos.
Correu para casa. Queria contar a novidade. Chegando, mostrou a escultura.   
— Vejam! Papai, você tinha razão. Todos nós temos potencialidades ignoradas e habilidades insuspeitas. Descobri que minhas mãos servem para alguma coisa. Também posso ser útil e criativo.
— Mas, quando foi que aprendeu a esculpir em madeira? — indagou o pai, intrigado.
— Não sei. Parece-me que já aprendi e que estou apenas recordando!
Era imensa a perplexidade e a alegria dos pais. Finalmente, Toninho descobrira uma razão para viver!
Desse dia em diante, Toninho como que tivera sua vista alargada. Tudo o que via, enxergava com outros olhos, vislumbrando sempre o que poderia fazer, modificar, transformar, esculpir.  
Tornou-se um grande artista. Seus trabalhos eram muito procurados e suas exposições bastante concorridas. Ficou conhecido no Brasil e no exterior, mas jamais deixou de ser a criatura simples que era.
Agora, porém, tinha um objetivo. Ajudar crianças, passando seus conhecimentos e ensinando que somente nos sentiremos felizes quando trabalharmos com amor fazendo aquilo que gostamos.
Agradecia sempre a Deus, que o ajudara quando mais precisava, indicando-lhe o caminho que deveria trilhar.
 
                                                Tia Célia
                                                                                                    
Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von scharten

O Menino e o Arco-íris



Lendo uma historinha ...

Toninho era um garoto que, embora não fosse rico, nada lhe faltava.
Tinha tudo! Pais amorosos, uma casa confortável, roupas bonitas e estudava numa boa escola.
Mas Toninho era um garoto que só conseguia ver da vida o que ela tinha de pior. Nas pessoas e nas coisas, procurava sempre o lado negativo.
Se um amiguinho se aproximasse após ter tomado um banho, de roupas limpas, cabelos penteados, ele olhava o outro dos pés à cabeça procurando algo para criticar:      — Que sapatos mais feios!
Em casa, a comida era sempre feita com carinho pela mãe, ansiosa para agradá-lo. Ele provava e já franzia o nariz, exclamando:
— Está uma droga! Muito salgada!
A mãe ficava triste, porém nada podia fazer. Debalde procurava fazê-lo mudar de comportamento, ensinando-lhe que tudo tem seu lado bom e que era preciso enxergar a vida com outros olhos.
Contudo, Toninho não se modificava. Ao contrário, parecia que a cada dia ele estava ficando pior.
Ninguém gostava dele. Os colegas na escola evitavam sua presença, temendo suas críticas. E, com isso, ele foi ficando cada vez mais sozinho e mal-humorado.
Sua mãezinha, preocupada com ele, fazia sentidas preces a Jesus, rogando-lhe a ajudasse a modificá-lo. O que seria dele no futuro se continuasse assim? A vida lhe seria um fardo muito difícil de suportar.
Certo dia, porém, brincando no quintal, ao passar correndo por debaixo de uma árvore, Toninho não viu um galho e esbarrou violentamente nele. De imediato, sentiu uma dor terrível nos olhos, não conseguia abrir as pálpebras e lacrimejava muito.
A mãe levou-o ao médico. Examinando Toninho, o médico acalmou os receios da mãe, dizendo-lhe:
— Graças a Deus não foi nada grave. Os olhos foram arranhados levemente pelo galho. Todavia, há necessidade de manter repouso e ficar com os olhos vendados.
O médico colocou uma pomada, fez um curativo em cada olho, tampando-lhe completamente a visão, depois recomendou:
— Voltem dentro de dois dias.   
Amparado pela mãe, Toninho saiu do consultório médico reclamando.
— Não se lamente, meu filho. Agradeça a Deus, pois você poderia ter ficado cego — considerou a mãezinha, paciente.
Aqueles dois dias foram um tormento para o menino. Chorou, se lastimou, bateu os pés no chão, fez birra, mas acabou se conformando. Afinal, o médico disse que se quisesse sarar, teria que ficar com os olhos vendados.
Naquele período aprendeu até a andar pela casa, embora trombando nos móveis; já conseguia saber se estava fazendo sol ou não, pelo calor no corpo; sentia o perfume das flores, a carícia do vento e tudo o que não se dava importância antes.
No final dos dois dias, estava mais tranqüilo e foi muito satisfeito que, à hora marcada, voltou ao médico.
Ao sair do consultório, após ter retirado os curativos, a emoção foi muito grande ao ver de novo a rua, as pessoas caminhando, os carros no trânsito, o céu, as árvores...
Toninho até chorou de felicidade.
Puxando-o pela mão, a mãe lhe disse:
— Vamos rápido, meu filho. Veja como o tempo está feio. Acho que não tarda a chover mais!
Toninho olhou para o alto, fitando o céu, cheio de nuvens escuras e sorriu, retrucando:
— Não acho que o céu esteja feio, mamãe. Acho até que está muito bonito! E veja o lindo arco-íris que surgiu entre as nuvens! Parece que ele está me saudando e dizendo: “Bem-vindo à vida, Toninho!”.
A mãe o olhou surpresa, ao notar a mudança que se operara nele, e Toninho explicou:   
— Sabe, mamãe, estes dois dias me fizeram ver as coisas de outra maneira. Não poder enxergar, ver sempre tudo escuro é horrível, e fez-me dar valor ao que me cerca. Mais do que isso. Entendi que antes, mesmo tendo visão perfeita, na realidade eu enxergava menos do que um cego. Compreendo agora porque a senhora vivia tentando fazer-me mudar de comportamento. Vejo agora que tudo é belo na natureza, as pessoas, as coisas que nos cercam.
A mãe suspirou e, olhando para o Alto, intimamente agradeceu a Jesus a lição que seu filho tinha recebido.

                                                                 TIA CÉLIA

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

Tempo Perdido



Lendo uma historinha ...

Certo homem era marceneiro de profissão e possuía extraordinária facilidade para trabalhar com madeira. Era um verdadeiro mestre em seu ofício e todos admiravam seus trabalhos.
Esse homem tinha um sonho.
Desejava esculpir na madeira uma imagem de Jesus, a quem ele amava profundamente, em tamanho natural.
Conversando com um amigo, o marceneiro falou do sonho que acalentava em seu íntimo e o companheiro o incentivou:
— Então por que você não começa? Com seu talento e habilidade nas mãos, tenho certeza que a escultura será uma obra prima!
Ao que o marceneiro respondeu:    
— Ah! Meu amigo! Desejo não me falta. Contudo, o trabalho deverá ser perfeito e ainda não resolvi qual a madeira que irei utilizar. Sempre em dúvida, o artesão deixava o tempo passar. Uma madeira porque era muito rija; a outra porque não era resistente o suficiente; outra era macia e de fácil manejo, porém a tonalidade não o agradava.
E assim o tempo foi passando e o marceneiro não se dava conta.
Alguns anos depois reencontrou o amigo que tinha retornado à cidade e, curioso, perguntou sobre a obra.
— Já resolvi o tipo de madeira que irei trabalhar. Entretanto, ainda não iniciei porque não estou nas minhas melhores condições íntimas. Creio que para esculpir a figura do Mestre preciso estar bem comigo mesmo e com o mundo. Sabe como é, os fregueses exigem muito da minha atenção e, não raro me irrito, perdendo a paciência. Além disso, não podendo dispensar o serviço da marcenaria, onde ganho o sustento para minha família, só posso dedicar-me ao sonho acalentado pela minha alma nos momentos de folga. E aí, grande parte das vezes, eu sinto-me exausto e sonolento. Contudo — completava tentando aparentar entusiasmo —, pretendo começar minha obra prima dentro em breve.
Algum tempo depois, voltaram a se encontrar e, questionado pelo amigo que demonstrava interesse pelo assunto, o artesão argumentava:
— Infelizmente, ainda não iniciei o trabalho porque as condições não permitem. A família exige muito da minha atenção e os filhos requisitam meus carinhos. Você compreende, ainda são pequenos e dependentes. Porém, quando que eles crescerem um pouco mais, poderei trabalhar em paz.
E assim o tempo foi passando. Muitos anos depois, em visita à cidade, o amigo foi procurar o marceneiro. Encontrou-o velho e doente.
Após os cumprimentos e a troca de notícias, felizes com o reencontro, o visitante interrogou, curioso:
— E daí? Estou ansioso para ver o trabalho que você tanto desejava executar. Com certeza deve ter ficado soberbo!
Os olhos do artesão se apagaram e uma tristeza infinita vibrou em sua voz já trêmula pela idade:
— Ah, meu amigo! Infelizmente, nem cheguei a iniciar o trabalho que representava o sonho de toda uma vida. As dificuldades foram muito grandes e a necessidade de prover o sustento da família me absorveu. Agora, encontro-me doente e sem forças. A vista está fraca e já não enxergo mais como antes, e as mãos, trêmulas, não me permitem mais trabalhar.
Penalizado, o visitante amigo viu-o puxar um lenço e enxugar uma lágrima, cheio de arrependimento e amargura.
— É tarde, meu amigo. Tive todas as condições e não soube aproveitar. Perdi a oportunidade que o Senhor me concedeu.
Tentando animá-lo, o visitante considerou:
— Quem sabe? Não desanime. Talvez ainda seja possível.
O marceneiro fitou o amigo, demonstrando que compreendia toda a extensão da sua inutilidade e da sua cegueira, e respondeu convicto:
— Não agora; só se for em outra existência.

                                                            TIA CÉLIA

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

A galinha Intransigente


Lendo uma historinha ...

Existiu certa vez uma galinha que nunca estava satisfeita com nada. Vivia de mal com o mundo e não perdoava a menor ofensa, mesmo involuntária.
Passava o tempo a queixar-se da vida e a criticar tudo o que os animais da fazenda faziam. No terreiro, ninguém estava livre dos seus comentários.
Se um patinho se machucava, ela logo dizia:    
— Bem feito! Quem manda dona Pata deixar seus filhotes soltos por aí?
Se o cachorrinho era picado por uma abelha ao enfiar o focinho no tronco de uma árvore, ela logo exclamava com ar satisfeito:
— Teve o que merecia! Quem manda ficar enfiando o nariz onde não deve?
Se o gatinho, sem querer, entornava o prato de leite, ela reagia:
— Também com a educação que dona Gata lhe dá, só podia ser um trapalhão mesmo!
E assim ela criticava todos os animais do terreiro. E ai de alguém que lhe fizesse a mínima ofensa. Jamais teria o seu perdão.
Certo dia, ela descuidou-se arrumando o galinheiro e não viu que um de seus pintinhos desaparecera.
Quando percebeu, ficou apavorada e saiu gritando por ele:
— Chiquinho! Chiquinho! Onde está você?                                                                              
Mas nada do Chiquinho aparecer. Perguntou para os vizinhos, para dona coruja, sempre muito esperta, e nada. Ninguém sabia dar notícias do pintinho.
Todos estavam preocupados e ajudando a procurar o filhote da galinha, até que dona Vaca lembrou-se de tê-lo visto atravessando o pasto a caminho do riacho.
Correram todos, e lá chegando ficaram surpresos e encantados com a cena que viram.
O pintinho caíra na água e, não sabendo nadar, debatera-se, ficando preso em umas plantas na outra margem do riacho que, embora estreito, não dava para alcançar.
O patinho, excelente nadador, já fizera vãos esforços para soltar o pintinho, que estava preso por uma das patas, mas ele era muito fraco e não tinha força suficiente.
O cachorrinho e o gatinho tiveram uma idéia e, nesse exato momento, a colocavam em execução.
O cachorrinho, que era o mais forte, se pendurou num galho de árvore à margem do regato e, ao mesmo tempo, segurou uma das patas do gatinho, que se esticou... esticou... esticou até conseguir agarrar o Chiquinho pelo pescoço. Depois, puxando-o com força, pode livrá-lo dos ramos que o prendiam.
Foi um alívio geral! Em pouco tempo, Chiquinho estava nos braços da mamãe Galinha, que respirava aliviada.
— Graças a Deus! Não sei como agradecer a vocês todos pela ajuda que me deram! — disse com lágrimas nos olhos.
Depois, pensando um pouco, completou envergonhada:
— E logo eu que sempre fui tão intolerante com todos! Mas, nunca mais criticarei ninguém. Nunca se sabe quando nós também vamos precisar da ajuda e do perdão dos outros. Hoje, por minha falta de atenção, meu filho quase perde a vida. Porém, em vez de me censurar, vocês me ajudaram. Quero que me perdoem tudo o que já lhes fiz, como espero que Deus me perdoe também.
E deste dia em diante, dona Galinha transformou-se numa criatura boa, paciente, tolerante e compreensiva para com as falhas do próximo e nunca mais criticou ninguém.

                                                         TIA CÉLIA

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

Pastor Invigilante


Lendo uma historinha ...

Em certa região vivia um pequeno pastor que passava o tempo a pastorear suas ovelhas.
Pela manhã, levava o rebanho para o campo, onde as ovelhas tinham vegetação abundante e água fresquinha de um regato que corria entre as pedras ali perto. À tarde, elas voltavam felizes para o redil. O pastorzinho vinha cansado, mas satisfeito.
Um dia, porém, começou a ficar enjoado do seu trabalho, desejando fazer algo melhor. Já não cuidava direito das ovelhas e, quando uma delas se afastava das demais, não se apressava em trazê-la de volta. Deixava-as livres e entregues a si mesmas, enquanto ele ficava sentado à sombra de uma árvore sonhando em mudar de vida.
Certo dia, um lobo faminto aproximou-se do local e, como elas estavam sozinhas, avançou sobre as indefesas ovelhinhas, enquanto o pastor dormia despreocupado das suas tarefas.
Com o barulho que as ovelhas fizeram, balindo desesperadas, o pastorzinho acordou e, percebendo o perigo, tocou sua trompa, um chifre que era usado para pedir ajuda quando necessário, ou apenas para se comunicar à distância com outro pastor.
Logo seu pai e alguns empregados da fazenda chegaram correndo e o lobo fugiu, às pressas.
Mas, uma das ovelhinhas tinha sido atingida e esvaía-se em sangue no chão, toda machucada.
O pai levou-a com muito cuidado para casa e cuidou de suas feridas com todo carinho. O pastorzinho, arrependido, chorava, vendo sua ovelhinha sofrendo por sua causa.
Depois, seu pai o chamou e falou-lhe severamente:
— Você não merece minha confiança. Dei-lhe a tarefa de cuidar de minhas ovelhas e você foi descuidado e invigilante. Se não estivesse distraído na execução das tarefas que lhe confiei, teria percebido o perigo a tempo de evitá-lo, pedindo socorro com presteza. Agora, um animalzinho indefeso sofre por seu descaso e talvez até venha a perder a vida.
Cabeça baixa, triste, o pastorzinho respondeu:
— Sei que tem razão, meu pai. Reconheço o meu erro. Mas não me negue uma outra oportunidade! Prometo ser mais cuidadoso e vigilante nas minhas obrigações E cuidarei com muito amor das ovelhas que o senhor me confiar.
Satisfeito, o pai o abençoou, sabendo que já aprendera a lição, e concedeu-lhe nova oportunidade de provar que mudara de comportamento.
A ovelhinha, sob os cuidados do pequeno pastor, em pouco tempo estava curada e corria alegremente pelos campos com as outras ovelhas, seguida pelo olhar atento do rapaz.
*
Também assim acontece conosco. Quantas vezes Deus, Nosso Pai, confiante, nos concede a bênção de realizarmos alguma tarefa que, por descuido, não executamos com proveito.
O Senhor coloca à nossa disposição os meios necessários para nosso progresso e, invigilantes, nos entregamos à preguiça e ao descaso, indiferentes à divina oportunidade que nos é concedida e, ainda, muitas vezes, prejudicando outras criaturas com a nossa irresponsabilidade.
Deus, porém, é Pai Amoroso e, sempre nos dará novas oportunidades para recomeçarmos de onde paramos.
E, se tocarmos a “trompa” pedindo socorro através de uma prece, não deixará de nos atender em nossos momentos de dificuldades.
                                                         TIA CÉLIA

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten

O esforço da Semente


Lendo uma historinha ...

A sementinha soltou-se da árvore e caiu no solo, e lá permaneceu. Certo dia, um vento passou soprando forte, e a arrastou para longe.
Nesse lugar estranho, longe do local onde sempre vivera, longe da árvore-mãe que a tinha agasalhado, a sementinha sentia-se solitária, mas confiante de que sua vida ia mudar. Uma manhã, olhando para o alto, viu pesadas nuvens que se acumulavam no céu e percebeu que ia chover.
Logo, o vento começou a soprar, e a chuva forte caiu, molhando a terra, se acumulando em poças e depois formando um pequeno regato.
A sementinha, apavorada, viu-se arrastada pela enxurrada por um longo trecho... Até que notou que havia parado. A lama acabou por envolvê-la, e ali ela ficou, escondida no escuro, coberta pela terra.
Sem nada ver, a sementinha sentia-se muito triste. Estava sozinha e sem poder sair daquele lugar onde não entrava luz. Não gostava da escuridão, nem da umidade, nem da terra que a mantinha presa, impedindo-a de ver o sol.
Todavia, ela não perdia as esperanças de ter um futuro melhor. Confiava que o Criador não a fizera nascer em vão.
E a sementinha sentia a vida pulsar dentro de si: Toc...toc...toc... Eram as batidas do seu coração.
Mas o que adiantava ter um coração, sentir-se viva, se nada podia fazer, entregue à inutilidade embaixo da terra?
Então, a sementinha, em lágrimas, orou com muita fé:
– Ajude-me, Senhor. Quero ter uma vida diferente, realizar alguma coisa de útil e de bom! Não me deixe aqui sem poder fazer nada.
Depois, cansada de chorar, a sementinha acabou por se acomodar, adormecendo aconchegada à terra.
Certo dia, algum tempo depois, ela acordou. Dormira bastante. Sentia-se descansada. Teve vontade de espreguiçar-se.
Encheu o peito de ar e abriu os braços com força. Então, viu que dois delicados brotinhos surgiam do seu corpo. Mais animada, começou a fazer força: Esticou... esticou... esticou bem os braços... e, cheia de alegria, conseguiu romper o solo!
E um espetáculo lindo surgiu diante de seus olhos maravilhados: O céu azul, as árvores verdes e floridas que existiam ali perto, os pássaros, e especialmente o Sol, cujos raios mornos aqueciam seu corpo, fortalecendo sua seiva.
Poucos dias depois, já era uma linda plantinha, forte e decidida, cheia de pequenos galhos e de folhas verdinhas.
 Em breve, tinha crescido e se transformado num belo arbusto. Não demorou muito, e era uma árvore, de tronco robusto e cujos galhos avançavam para todos os lados formando uma grande copa.
Surpresa e feliz, descobriu que era uma Macieira!
Agora, olhando tudo do alto, a Macieira pensava em como se modificara sua vida. Os pássaros vinham fazer ninhos em seus ramos; os pequenos animais se abrigavam sob sua copa; as pessoas protegiam-se sob sua sombra, as crianças subiam em seus galhos, e, no tempo certo, colhiam seus frutos, alimentando-se com suas doces e saborosas maçãs. E até os vermes existentes no solo se beneficiavam, aproveitando os frutos estragados que caíam no chão.
 E a Macieira acolhia a todos, satisfeita por poder ser útil. Sentia-se agora feliz e realizada.
Seu coração grande e generoso, repleto de gratidão, reconhecia o quanto devia à terra que a agasalhara em seu seio por tanto tempo, à água que mantivera sua vida latente, e ao calor do sol que lhe dera condições de crescer e se desenvolver.
Compreendia agora que, sem as dificuldades que tinha atravessado, não poderia ter chegado a ser a bela árvore em que se transformara.
E certamente, agradecia a Deus, que a criara, consciente de que precisava passar por aquele processo de aprendizado para crescer e realizar a tarefa que lhe fora destinada.
Sentia-se importante; deixara de considerar-se inútil.
Sua tarefa poderia ser pequena, mas só ela a poderia realizar, por isso agora se considerava muito feliz.

                                                                         TIA CÉLIA

Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita
Autora: Célia Xavier Camargo
Agradecimento à Carolina Von Scharten
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