A mídia, de uma forma geral, tem noticiado que muitos pais ingleses estão infligindo aos filhos, muitos dos quais com menos de 5 anos de idade, lutar boxe tailandês. A materialidade dessa aberração está em documentário produzido por canal de televisão britânico, mostrando o circuito das lutas organizadas, em que os inscritos, para esse fim, são crianças com idade a partir de quatro anos (inacreditável!). Nesse proscênio, incentiva-se o MuayThai (boxe tailandês), tornando essa prática cada vez mais popular na Europa, atualmente com centenas de academias estabelecidas.
Milhares de adultos imaturos pagam ingressos para assistir às crianças, menores de dez anos, lutando em uma espécie de gaiola de ferro. Muitos pais acreditam que essa prática pode incentivar os filhos a cuidar mais de si mesmos quando crescerem, e creem que seus filhinhos possam conquistar o título de "campeão". Porém, esses pais desnaturados desrespeitam a liberdade dos filhos por não saberem quais são os reais sonhos dessas crianças, projetando nelas as suas frustrações.
Pediatras, psicólogos, professores e estudiosos consideram muito prejudicial, para as crianças e jovens, o incentivo a esportes agressivos, pelo efeito da violência que essas práticas produzem, pois, os golpes violentos fascinam as mentes infantis, principalmente, porque são desempenhados por "heróis" de filmes de ação, vistos em cinemas, ou quando televisados.
Alguns pais “espíritas” tentam justificar o encaminhamento de seus filhos para academias de autodefesa, a fim de acalmá-las e torná-las dóceis (!?), relatam que seus filhos ficaram muito mais “serenos” depois das técnicas do tatame. Não conseguimos concordar. O Espírito André Luiz nos recomenda esquivar-nos hábito de menosprezar o tempo com defesas pessoais, seja qual for o processo em que se exprimam. Pois o servidor fiel da Doutrina possui, na consciência tranquila, a fortaleza inatacável. (4)
Desconhecem tais pais que muitas crianças e jovens não têm capacidade crítica, não têm noção do perigo a que estão sujeitos aprendendo técnicas violentas de autodefesa, muitas vezes desconhecem a índole do seu adversário, no que pese à postura de briga "esportiva", se aceitável, se razoável ou se absolutamente criticável, a eliminar de seus hábitos.
Infelizmente o que identificamos, de forma generalizada, é o distanciamento de muitos pais, para razoável educação dos filhos nesse sentido. De maneira geral, alguns pais transferem suas responsabilidades não só para as arenas, tatames, mas também para os colégios ou para o Governo, enquanto eles é que tinham que dizer aos filhos se isso ou aquilo é perigoso para eles, ou não.
Uma legítima educação é aquela em que os poderes espirituais regem a vida social. Todavia, o "homem moderno" e que se diz "civilizado" se envaidece com a sua capacidade de subjugar os outros, de mandar, de impor medo, quando o ideal seria ensinar à sua prole o respeito humano e submissão a Deus. A degradação moral atual abriu as comportas da violência, represada debilmente pelas barreiras artificiais da civilização. Essa deformação da mente e o aviltamento da consciência embruteceram o homem, artificializado pela violência no seu método de ação, justificado pelo seu valor pessoal, para o reconhecimento do seu poder, que, imperiosamente, o embriaga e o tem levado a excessos perigosos.
A violência do "homem civilizado" tem as suas raízes profundas e vigorosas na selva. Um pai que expõe seu filho a esportes violentos, correndo o risco de inutilizá-lo para sempre, é bem o homo brutalis, que cria as suas próprias leis: subjugar, humilhar, torturar, matar. O seu valor está sempre acima do valor dos outros. Além disso, mister é recordar que a cumplicidade com a violência, por parte das consciências adultas, retarda a evolução coletiva e rebaixa o cúmplice a posições indignas. Pessoas de mente esclarecida jamais fomentarão ideias desse tipo em uma criança ou adolescente.
Os guantes da brutalidade continuam a fermentar competições hediondas nas novas estruturas socioculturais. A prova histórica disso está, hoje, diante de nossos olhos, na eclosão de violências em todos os níveis do mundo contemporâneo, sobretudo contra jovens e crianças. Nossa esperança é a de que essa explosão seja a catarse final para que o homem bruto desapareça e possa ceder lugar ao homem de mansidão.
Estamos numa conjuntura de nova antropofagia, superestimada e requintada pelas técnicas de lutas de arenas, como se fossem esportes de modernas concepções. Hoje, na era cibernética, os instrumentos de opressão, tortura e aniquilamento, de que o homem dispõe, atingem o clímax em face de seu máximo aperfeiçoamento.
Atualmente, educar é uma tarefa intrincada, é problema de solução nada fácil, em face das modificações que a condição infantil vem sofrendo nas últimas décadas. Antigamente, a pureza das crianças era uma realidade mensurável. Sua perspectiva não ultrapassava os simples livros didáticos, um único humilde caderno e brinquedos baratos. Para repreendê-las e educá-las, às vezes, bastava um olhar firme dos pais. Porém, aquele imaginário infantil, de quietude e sonho ingênuo, desmoronou sob o impacto da era da robótica.
Em nosso diagnóstico, concebemos que a televisão e as novas tecnologias, ao invadirem os lares, potencializaram, nas crianças, o despertar antecipado para uma realidade nua e cruel, o que equivale afirmar que elas foram arrancadas do seu universo de fantasia e conduzidas para a violência, estimuladas, também, pela vaidade dos pais. Destarte, o período de inocência e tranquilidade infantil foi diminuindo. Cada vez mais cedo, e com maior intensidade, as inquietações da adolescência brotam acrescidas pelos múltiplos e desencontrados apelos das revistas pornográficas, da mídia eletrônica, das drogas, do consumismo descontrolado, do mau gosto comportamental, da vulgaridade exibida, das diversas técnicas de lutas de autodefesa e outras tantas extravagâncias, como reflexos óbvios de pais que vivem iludidos, estagnados e desatualizados, enclausurados em seus afazeres diários e que nunca podem permanecer à frente da educação dos próprios filhos.
Seria possível uma viagem através do "túnel do tempo", a uma volta aos padrões comportamentais de 60 anos atrás? Seria desejável - e essa é uma meta a ser atingida a longo prazo - que as crianças só recebessem das pessoas que as cercam e do mundo que as envolve, mensagens boas e construtivas, ao invés de serem bombardeadas, dia e noite, pela violência e pela sensualidade desenfreada. Para que isso aconteça, cabe aos pais, principalmente, a tarefa de modificar essa deseducação constante por que passam na infância.
A regra áurea do amor haverá de prevalecer no mundo regido pela lógica da violência. No conjunto de providências dos Espíritos Elevados, o Espiritismo assumirá seu espaço, definitivamente. Isso equivale afirmar que essa posição sui generis do Espiritismo permitirá preparar a criança atual para uma existência normal e digna no futuro, desde que os espíritas permaneçam atentos. Jesus prossegue o modelo.
A tarefa que nos cumpre realizar é a da educação das gerações jovens pelo exemplo de total dignificação humana sob as bênçãos de Deus. Nesse sentido, os postulados Espíritas são antídotos para a violência, posto que aqueles que os conhecem têm consciência de que não poderão se eximir das suas responsabilidades sociais, sabendo que o futuro é uma decorrência do presente.
Referências bibliográficas:
1. Mateus, V: 4.
2. Mateus, V: 9.
3. Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap. IX.
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