domingo, 29 de janeiro de 2017

O palavrão


 

Dois irmãos estavam brincando no quintal, quando se desentenderam. Caio, de três anos, achava que somente ele poderia aproveitar e andar de bicicleta. Felipe, de nove anos, queria brincar também, porém o irmãozinho não deixava. Perdendo a paciência, Felipe gritou:

— Você é... é... Não dá pra brincar com você! É incompreensivo mesmo!... Chega! Não vou mais brincar com você!...

Caio, que não entendera aquela palavra, começou a chorar, gritando para a mãe, que estava na cozinha:
 
— Mamãe!... Mamãe!... O Felipe está me xingando!... 

E Caio chorava tanto que a mãe saiu da cozinha, correndo para o quintal onde eles estavam. Querendo saber o que tinha acontecido perguntou a Felipe, que achara graça de o irmão pensar que ele dissera um palavrão, deu uma gargalhada, virando-se para a mãe:

— Mãe, não aconteceu nada! Caio acha que eu disse um palavrão! — E caiu novamente na risada.

— E não disse? — indagou a mãe, surpresa.
 
— Claro que não!... Eu disse que o Caio é incompreensivo! Ele não entendeu e não gostou! 

 Por isso está chorando.

A mãe conteve o riso para não deixar o caçula mais nervoso ainda, depois explicou pegando-o no colo:

— Caio, querido, o que seu irmão lhe disse não é um palavrão. É uma palavra grande, porém quer dizer que você não entendeu o que ele explicou. Só isso!

— Não!... — gritou o pequeno, irritado — Eu entendi sim! Ele queria me xingar!... Também não brinco mais com ele! 

Felipe aproximou-se do irmão, abraçou-o e tentou conversar com Caio, que escondeu o rosto no colo da mãe, para não ver o irmão. 
 
Então, Felipe se afastou indo cuidar de seus deveres escolares. Algum tempo depois, fechado no quarto, ele fazia suas tarefas quando alguém bateu na porta. Ele foi abrir e viu o pequeno Caio que queria entrar. 

— O que deseja Caio? Não vou brincar. Estou fazendo deveres da escola. 

— Ah! O que é isso? — indagou o pequeno.
 
— Tenho tarefas para fazer, e se não fizer, terei notas ruins.

— Por quê?

— Porque a professora vai achar que eu não sei fazer tarefas e me dará nota baixa. Só isso!

— Ah!... Se é só isso, quer dizer que você pode brincar comigo e...

Felipe olhou para Caio, que parecia arrependido de ter brigado com ele, e disse:

— Caio, agora não posso. Vá brincar com seu cãozinho, com seus brinquedos, com seus amiguinhos. Eu não posso brincar agora!...

O pequeno baixou a cabeça, triste, quase chorando. Felipe, vendo o estado dele, sentiu pena e, abaixando-se, consolou o irmãozinho:

— Caio, meu irmão, não estou bravo com você. Apenas
tenho coisas mais importantes para fazer e não posso brincar agora. Entendeu?  
 
O pequeno balançou a cabeça mostrando que entendera e saiu do quarto muito triste. A mãe, que limpava a sala, vendo Caio chateado, indagou o que tinha acontecido, ao que o pequeno respondeu:

— É que Felipe não pode brincar comigo. Você pode brincar, mamãe?

A mãe pegou-o no colo, e explicou que ela não podia brincar agora porque estava muito ocupada com as tarefas de casa, mas que assim que terminasse brincaria com ele. 

— Ninguém pode brincar comigo!... — reclamou Caio olhando para o chão.
     
A mãe, com pena dele, olhou em torno e convidou-o para ajudá-la no serviço de limpeza, afirmando que depois ela brincaria com ele:

— Se você me ajudar, logo terminaremos! 

Caio aceitou e, muito sério, pegou uma vassoura e pôs-se a varrer o chão. Nisso, seu cãozinho entrou na sala e latiu, puxando-lhe a barra das calças, mas o garotinho olhou sério para o cachorrinho dizendo:

— Totó, eu não posso brincar agora! Estou ocupado com trabalho muito importante! Quando acabar, vou brincar com você.   
  
E, com carinha séria, sentindo-se valorizado, tomou da vassoura e pôs-se a varrer dizendo:

 — Eu também tenho tarefas, não é, mamãe?

— Claro, meu filho! Você é pequeno, mas varre muito bem. Parabéns!... Logo poderá fazer outras tarefas mais importantes. Viu como você está crescendo?!

E de vassoura na mão, Caio sentia-se muito melhor e valorizado. Quando o pai chegou do trabalho, viu o seu filho caçula varrendo a entrada da casa e o convidou:

— Caio, quer brincar um pouco com o papai?

Muito sério, ele levantou a cabeça, olhou firme para o pai e respondeu:

— Papai, agora eu não posso. Estou trabalhando. Quando acabar meu serviço, aí nós poderemos brincar, está bem?  

MEIMEI 
(Recebida por Célia X. de Camargo, em 31/10/2016.)

 

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