por Miguel
Lucas psicólogo
Como pai ou
educador, o mais natural é fazer todos os esforços para evitar que a sua
criança sofra ou passe por experiências de dor física ou emocional. Uma das
experiências mais difíceis para uma criança é o desapontamento. As crianças são
por natureza muito entusiasmadas, envolvendo-se em muitas atividades
e sempre à procura de conquistas. Quando as suas esperanças e desejos não são
cumpridos, elas podem experimentar sentimentos de decepção. Se esses sentimentos
forem personalizados por parte da criança, ela pode julgar-se inferior
relativamente às outras crianças, conduzindo-a a comportamentos prejudiciais
para o seu desenvolvimento saudável. Se é pai ou educador, quero muito
dizer-lhe que é possível transformar o desapontamento como um trampolim para o
crescimento e desenvolvimento das crianças.
Em seguida apresento sete estratégias chave para
ajudar as crianças a trabalhar na sua força emocional através dos
sentimentos de decepção:
1. Reconheça os sentimentos da
criança
Talvez a criança não tenha
sido escolhida para o papel principal na peça escolar ou não tenha alcançado o
grau académico que ela queria. Talvez ele ou ela não tenha sido convidado para
uma festa de aniversário ou o seu desapontamento foi sobre algo muito
sério. A primeira e mais importante resposta dos pais ou educadores é ouvir e
reconhecer.
Por
exemplo:
“Sim, estás desapontado.
Está certo sentir isso, e não tem problema nenhum em expressares esse
sentimento.
Sim, o desapontamento dói. É uma perda.
Queres falar comigo acerca disso? Fala o que quiseres.”
2. Valide a criança como pessoa
A decepção é uma crise
emocional para as crianças. Quando elas lutam com um revés ou com uma
derrota, as crianças olham para os pais para validação. Após uma experiência de
decepção por parte da criança, o comportamento que os pais ou educadores têm
com ela e a forma como falam acerca disso tem uma influência preponderante para
a construção de uma opinião acerca do que significa o desapontamento.
Discurso da criança:
Ainda estou bem?
Os meus sentimentos são aceitáveis para você?
Há algo de errado comigo?
Isto está a acontecer comigo porque eu sou
diferente para pior?
Discurso dos pais ou educadores:
O
desapontamento é doloroso, mas não tem nada de que te
possas envergonhar.
Não
faz com que sejas uma pessoa inferior.
Não
conseguires algo que gostarias de ter ou alcançar não faz de ti um
perdedor.
É muito importante deixar isso
claro, tanto em palavras como em ações, porque os julgamentos negativos são comuns
de acontecerem, quase de forma automática. A realidade da sociedade em que
vivemos é que há classificações constantes, como por exemplo na escola, no
desporto e até mesmo entre os pares.
A mensagem que importa
deitar por terra é que a criança tem de ser um “vencedor”, um “número um” para
ser aceite ou ter valor. Na grande maioria das vezes e para a maioria das áreas
de vida isso é completamente impossível ou desajustado. Comentários
desagradáveis na escola ou entre os ciclos de amigos podem reforçar a
sensação de ser um “perdedor”.
Fique atento às
manifestações verbais e comportamentais da criança que indiquem desvalorização
pessoal.
3. Ensine pelo exemplo
As crianças aprendem muito
mais através da observação do que pelo que você lhes diz. Mostre à criança como
você lida com o seu desapontamento. Deixe-a saber como você se sente e o que
faz perante o desapontamento. Então a criança irá sentir-se encorajada a fazer
de forma idêntica.
4. Desejar versus ter
Fale com a criança. Discuta como tolerar
os desapontamentos a curto prazo e como transferir as suas esperanças para o
futuro. Tente descobrir juntamente com a criança quão realista é esse desejo ou
objetivo. Esta é uma oportunidade de aprendizagem particularmente boa se a
decepção é sobre não obter um objeto desejado, uma viagem à Disneyland, ou
qualquer outra coisa.
Por exemplo:
Nem todos os desapontamentos
são para sempre.
Não foi possível fazer
essa viagem agora, mas para o ano que vem certamente irá acontecer.
Escrutinar as
nossas esperanças e sonhos, por um lado, e o que a vida pode oferecer a
qualquer momento, por outro lado, é uma habilidade de vida muito valiosa. Por
isso importa orientar e ajudar a criança a aprender a realidade que a
vida nos impõe.
5. habilidades auto-calmantes para crianças
Mesmo os bebés praticam
habilidades auto-calmantes, como balançar, chupar na chupeta e abraçar os pais.
Observe a criança e note que habilidades auto-calmantes têm funcionado
para ela. Sugira à criança que tente aplicar essas habilidades quando se
encontra desapontada. Recorrer a um conjunto de estratégias ou técnicas de
regulação do estado emocional que sejam familiares para as crianças é uma forma
eficaz e saudável de lidar com a decepção.
6. Soluções (mas sem desaprovação)
Alguns
desapontamentos só podem ser ultrapassados trabalhando na sua aceitação ao logo
do tempo, mas existem outros que podem ser reavaliados e os seus efeitos
transformados. Experimente falar tranquilamente com a criança e perceber quais
as razões que a levam a colocar uma carga emocional tão elevada em alguns
acontecimentos. Depois, conjuntamente com ela, perceba o que pode ser feito
para minimizar os danos causados e de que forma mais construtiva poderá lidar
com acontecimentos semelhantes no futuro.
Esteja ciente de que é realmente importante não
transmitir culpa à criança por não ter conseguido encontrar uma forma de lidar
com o seu desapontamento. Oriente a criança no caminho para uma solução que ela
seja capaz de implementar na próxima vez. 7. Amor incondicional
Quando a criança está
desapontada, particularmente quando a decepção está conectada às suas
realizações, você tem uma chance maravilhosa de mostrar-lhe que a ama
exatamente como ela é. Se tiver algo a dizer-lhe ou a ensinar-lhe como
mencionei nos pontos anteriores, refira-se sempre em relação ao comportamento
ou atitude que ela teve ou tem perante o desapontamento e não propriamente a
ela como pessoa.
Exemplo:
“Eu
gosto muito de ti, e percebo que possas estar desapontado. Acredito que da
próxima vez não seja necessário teres uma atitude tão furiosa e de
afastamento.”
Abraço,
Miguel
Lucas
Licenciado em Psicologia, exerce em clínica privada. É também preparador
mental de atletas e equipas desportivas, treinador de atletismo e formador na
área do rendimento desportivo.
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