A galinha amorosa... |
Gentil galinha, cheia de instintos maternais, encontrou um ovo de regular tamanho e espalmou as suas asas sobre ele, aquecendo-o carinhosamente. De quando em quando, beijava-o, enternecida. Se saía a buscar alimento, voltava apressada, para que lhe não faltasse calor vitalizante. E pensava, garboso :
- Será meu pintainho ! Será meu filho !
Em formosa manhã de céu claro, notou que o filhotinho nascia, robusto.
Criou-o com todos cuidados.
Um dia, porém, viu-o fugir pelas águas de um lago, sobre as quais deslizava.
Chamou-o, como louca :
A galinha voltou muito triste ao velho poleiro.
- Choquei um ovo de quem não me pertencia à família ...
... e não houve resposta. Ele era um pato arisco e fujão.
Encontrou outro ovo ... e chocou-o... Outra ave nasceu. Tratou-o com mil cuidados ...e notou que não era pintainho. Era um corvo esperto.
Um dia, o corvinho voou, juntando-se a outros.
A galinha sofreu muitíssimo.
Embora resolvida a viver só, foi surpreendida, certo dia, por outro ovo. Chocou-o
Dentro em pouco, o filhote surgiu. A galinha afagou-o feliz.
Quando o filhote estava crescido :
_ Ora, ele persegue ratos na sombra !
Durante o dia era desastrado ...ele parecia cego.
A noite, seus olhos brilhavam. Era uma corujinha, que acabou fugindo da mãe.
A mãe chorou amargamente.
Encontrando outro ovo, buscou ampará-lo. E findos trinta dias, veio à luz corpulento filhote.
A galinha ajudou-o como pôde. O filho porém, cresceu demais. Ele passou a mirá-la de alto a baixo. Chegava a maltratá-la.
Era um pavãozinho orgulhoso.
A carinhosa ave, dessa vez, deseperou em definitivo. Saiu do galinheiro gritando e dispunha-se a cair nas águas de rio próximo, em sinal de protesto contra o destino, quando grande galinha mais velha a abordou, curiosa, a indagar dos motivos de sua dor.
A pobre respondeu, historiando o próprio caso.
A irmã experiente estampou no olhar linda expressão de entendimento e considerou, cacarejando :
- Que é isto, amiga ? Não desespere. A obra do mundo é de Deus, nosso Pai. Há ovos de toda espécie, no mundo, inclusive os nossos.
Continue chocando e ajudando, em nome do Poder Criador. Mas não se prenda aos resultados de serviço que pertencem a Ele e não a nós.
A galinha sofredora aceitou o argumento, resignou-se e voltou, mais calma, ao grande parque avícola a que se filiava.
- Não podemos obrigar os outros a serem iguais a nós, mas é possível auxiliar a todos, de acordo com nossas possibilidades. Entendeu ?
O caminho humano estende-se repleto de dramas iguais a este. Temos filhos, irmãos e parentes diversos que de modo algum se afinam com as nossas tendências e sentimentos.
trazem consigo inibições particularidades de outras vidas que não podemos eliminar d pronto. Estimaríamos que nos dessem compreensão carinho, mas permanecem imantados a outras pessoas e situações, com as quais assumiram inadiáveis compromissos. De outra vezes, respiram outros climas evolutivos.
Não nos aflijamos porém.
A cada criatura pertence a claridade ou a sombra, a alegria ou a tristeza do degrau em que se colocou.
Amemos sem o egoísmo de posse e sem qualquer propósito de recompensa, convencidos de que Deus fará o resto.
Extraído do livro A vida fala I - Neio Lúcio - psicografado por Chico Xavier.
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