segunda-feira, 6 de junho de 2011

O Grilo Perneta



Lendo uma historinha ...

Tinhoso era um grilo sapeca.
Desgarrava-se dos irmãos e lá ia o arteiro a fazer das suas.
Só muito tarde voltava para casa.
- Tinhoso - Dizia-lhe a mãe grilo - Você não deve andar por aí.
- Hum ... - respondia Tinhoso, sem cerimônia - se tenho pernas ando por onde quero!
- Devemos andar só por onde nos convêm, Tinhoso.
O Grilo sapeca afastava de beicinho caído.
Um dia lá se foi de novo.
Correu e pulou por todos os lugares diferentes, até que ... tchuáááá ... caiu numa lagoa.
- Socorro! ... Socorro! ...
Ele gritava desesperado.
E aí se afogou, sem apelação.
Tempos depois, Tinhoso renasceu na mesma família.
Mas Tinhoso, pobrezinho, nasceu perneta.
Fizeram para ele uma muleta.
E de muleta ele saia a passear apenas pelas redondezas, vigiado pela mãe e pelos irmãos.
Lá ia ele aborrecido, no seu toc-toc ...
Sua vontade era sair pulando por aí.
Suspirava e nada podia fazer.
Um dia muito triste, vendo os irmãos, que tinham todas as perninhas, quis saber a razão de ser perneta.
- Tive um outro filho. Ele era muito traquina e andava sempre desgarrado de todos. Um dia, caiu na lagoa e como não havia quem pudesse socorrê-lo, afogou-se.
Tinhoso ouviu atentamente.
- Talvez - disse-lhe a mãe - tenha sido você mesmo, na outra encarnação.
Tinhoso estava admirado.
- Quem usa mal as pernas, um dia nasce sem elas. É um modo doloroso de aprender a ter educação e disciplina, meu filho.
Tinhoso, a partir de então, já sem tanta tristeza, voltou a conviver com os demais.
Sempre que ia reclamar de ser perneta, lembrava-se da lagoa e sabia que ele próprio era o culpado de seu defeito.
E tratava, por isso, de bem usar a perna e ... a muleta.
autor Roque Jacintho.

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