Queridos pais, educadores, irmãos, tios, avós de nossas crianças.
É na fase da infância e juventude que está sendo construido a base emocional que lhes trará uma vida adulta equilibrada. Dependo de nós, proporcionarmos segurança, apoio e carinho.
Trago um excelente texto do livro Manual prático do espírita de Ney Pietro Peres, para que possamos compreender os mecanismos do auto conhecimento nesta fase. E não só a eles, mas a nos também.
Se acharem interessante, temos outros textos relacionados ao tema em nosso blog Seguindo os Passos do Ser Integral, deixarei o link no final do texto.
Boa Leitura, Bom estudo.
Com carinho,
Elaine Saes
CONHECER-SE NO CONVÍVIO COM O PRÓXIMO
“Amar ao próximo como a si mesmo, fazer aos outros o que quereríamos
que os outros nos fizessem, é a mais completa expressão da caridade, pois que
resume todos os deveres para com o próximo”( Allan Kardec O Evangelho Segundo o
Espiritismo cap XI amar aos próximo como a si mesmo)
No relacionamento entre os seres humanos, as experiências
vividas ensinam constantemente lições sociais, através de nossas reações com o
meio e das manifestações que o meio nos provoca.
O campo das relações humanas, já pesquisado amplamente,
talvez seja a área de experiências mais significativa para a evolução moral do
homem.
O tempo vai realizando progressivamente o amadurecimento de
cada criatura, na medida em que aprendemos, no convívio com o próximo, a
identificar nossas reações de comportamento e a discipliná-las.
O relacionamento mais direto acha-se o meio familiar, onde
desde criança brotam espontaneamente nossos impulsos e reações. Nessa fase
gravam-se impressões em nosso campo emocional que repercutirão durante toda
nossa existência. Quantos quadros ficam plasmados na alma sensível de uma criança.
Quadros esses que podem levá-la a inconformações, angústias profundas, desejos
recalcados, traumas, caracterizando comportamentos e disposições na fase da adolescência
e na adulta.
Guardamos do relacionamento com os pais, irmãos, tios,
primos e avós, os reflexos que mais nos marcaram.
Começamos, então, numa busca tranquila, a conhecer como
reagimos e por que reagimos, na infância e na adolescência, aos apelos
agressões, contendas, choques de interesses. Essas reações emocionais, que
normalmente não se registram com clareza nos níveis da consciência, deixam,
entretanto, suas marcas indeléveis nas profundidades do inconsciente.
Importantes são as suaves e doces experiências daqueles
primeiros períodos da nossa vida, quando os corações amorosos de uma mãe, de um
pai, de um irmão, de uma professora, pelas expressões de carinho e de
compreensão, aquecem nossa alma em formação e nela gravam o conforto emocional
que tantos benefícios nos fizeram, predispondo-nos às coisas boas, às
expressões de amor, que, por termos conhecido e recebido, aprendemos a dar e a
proporcionar aos outros. Essas ternas experiências constituem necessários
pontos de apoio ao nosso espírito, para que possamos prosseguir e ampliar
nossas obras nas expressões do coração.
No convívio escolar, iniciamos as primeiras experiências
como o meio social fora dos limites familiares. As reações já não são tão
espontâneas. Retraímo-nos às vezes; a timidez e o acanhamento refletem de
início a falta de confiança nas professoras e nos colegas de turma. Aprendemos
paulatinamente a nos comportar na sociedade, com reservas. Sufocamos, por
vezes, desejos e expressões interiores, e até mesmo defendemos com violência
nossos interesses, mesmo que ainda infantis. E também brigamos com aqueles que
caçoam de alguma particularidade nossa. Quase sempre retribuímos com bondade
aos que são bondosos conosco. E devolvemos insultos aos que nos agridem. Sem
dúvida são reações naturais, embora ainda bem primárias.
Vamos assim caminhando para a adolescência, fase em que
nossos desejos se acentuam. O querer começa a surgir, a auto-afirmação emerge naturalmente,
a nossa personalidade se configura. Aparecem as primeiras desilusões, as
amizades não correspondidas, os sonhos frustrados, as primeiras experiências
mais profundas no campo sentimental. De modo particular, cada um reage de forma
diferente aos mesmos aspectos do relacionamento com os outros: uns aceitam e
resignam-se com os desejos não alcançados; outros, inconformados, reagem com
irritação e violência e, por isso mesmo, sofrem mais. E o sofrimento é maior porque
é necessário maior peso para dobrar a inflexibilidade do coração mais
endurecido, como ensina a lei física aplicada à nossa rigidez de emperramento.
Os mais dóceis e flexíveis sofrem menos, porque menor é a carga que lhes atinge
o íntimo. Esses não oferecem restência ao que não pode possuir.
A resignação é o meio de modelação da nossa alma,
característica do desprendimento e da mansuetude que precisamos cultivar.
Inúmeros aspectos desconhecidos da nossa personalidade
abrem-se para a nossa consciência exatamente quando conseguimos identificar,
nos entrechoques sociais, aquilo que nos atinge emocionalmente.
As reações observadas nos outros que mais nos incomodam são
precisamente aquelas que estão mais profundamente marcadas dentro de nós. As
explosões de gênio, os repentes que facilmente notamos nos outros e comentamos
atribuindo-lhes razões particulares, espelham a nossa própria maneira de ser,
inconscientemente atribuída a outrem e dificilmente aceita como nossa. É o
mecanismo de projeção que se manifesta psicologicamente.
Poucas vezes entendemos claramente as manifestações de
nossos sentimentos em situações específicas, principalmente quando alguém nos
critica ou comenta nossos defeitos. Normalmente reagimos: não aceitamos esses
defeitos e procuramos justifica-los. Nesse momento passam a funcionar os nossos
mecanismos de defesa, naturais e presentes que qualquer criatura.
No convívio com o próximo, desde a nossa infância, no lar,
na escola, no trabalho, agimos e reagimos emocionalmente, atingindo os domínios
dos outros e sendo atingidos nos nossos. Vamos, assim, nos aperfeiçoando,
arredondando as facetas pontiagudas do nosso ser ainda embrutecido, à
semelhança das pedras rudes colocadas num grande tambor que, ao girar
continuamente, as modela em esferas polidas pela ação do atrito de para a
parte.
É interessante notar que as pedras de constituição menos
dura modelam-se mais rapidamente, enquanto aquelas de maior dureza sofrem, no
mesmo espaço de tempo, menor desgaste, demorando mais, portanto, para perderem
a sua forma original bruta.
Esse aperfeiçoamento progressivo, no entanto, vem se
realizando lentamente nas múltiplas existências corpóreas como processo de melhoramento
contínuo da humanidade.
As vidas corpóreas constituem-se, para o espírito imortal,
no campo experimental, no laboratório de testes onde os resultados das
experiência se vão acumulando. “A cada nova existência, o espírito dá um passo
na senda do progresso; quando se despojou de todas as suas impurezas, não
precisa mais das provas da vida corpórea.”( Allan Kardec O Livro dos Espíritos
cap IV Pluralidade das Existências pergunta 168)
Instruirmo-nos através das lutas e tribulações da vida corporal
é a condição natural que a Justiça Divina a todos impõe, para que obtenhamos os
méritos, com esforço próprio, no trabalho, no convívio com o próximo.
O conhecer-se implica em tomarmos consciência de nossa
destinação como participantes na obra da Criação. Dela somos parte e nela
agimos sendo solicitados a colaborar na sua evolução global; Deus assim
legislou.
O limitado alcance de nossa percepção e de nossa vivência em
profundidade, no íntimo do nosso espírito, dessa condição de co-participantes
da Criação Universal é decorrente de nossa mínima sensibilidade espiritual, o que
só podemos ampliar através das conquistas realizadas nas sucessivas
reencarnações.
Parece claro que caminhamos ainda hoje aos tropeços, caindo
aqui, levantando acolá, nos meandros sinuosos da estrada evolutiva que ainda não
delineamos firmemente. Constantemente alteramos os rumos que poderiam nos levar
as correções, por isso retardamos os passos e repetimos experiências até que
delas colhamos bons resultados, para daí avançarmos.
O conhecer-se é o próprio processe de autoconscientização,
de reconhecimento de nossas limitações e dos perigos a que estamos sujeitos no
campo das experiências corpóreas. É ponderar sempre, é refletir sobre os riscos
que podem comprometer a nossa caminhada ascensional e tomar decisões, definir
rumos, dar testemunhos.
É precisamente no convívio com o próximo que expressamos a
nossa condição real, como ainda estamos – não o que somos, pois entendemos que,
embora ainda ignorantes e perfeitos, somos obra da Criação e contamos com todas
as potencialidades para chegarmos a ser perfeitos. Estamos todos em condições
de evoluir. Basta querermos e dirigirmos nossos esforços para esse mister.
Uma das melhores diretrizes para chegarmos a isso é
oferecida pelo educador Allan Kardec ( O Evangelho Segundo o Espiritismo cap XVII
Sedes perfeitos – o Dever):
“O dever começa
precisamente no momento em que ameaçais a felicidade e a tranquilidade do vosso
próximo, e termina no limite que quereríeis alcançar par vós mesmos”.
Extraído do Livro Manual Prático do Espírita – Ney Pietro
Peres