Num país bem
distante, em meio a terras estranhas, vivia um rapazinho muito pobre.
Ajudava sua
mãe nos afazeres domésticos e ainda saia de casa procurando pequenas tarefas
que pudessem realizar.
Todos na
aldeia e estimavam e não lhe faltava serviço. Carregava água para abastecer as
residências, varria calçadas e quintais, lavava e tratava cavalos, fazia
entrega para os comerciantes e levava pequenos recados. Com isso, ganhava
sempre algumas moedas que entregava à sua mãezinha, que o agradecia com um
beijo.
A vida deles
era muito difícil e essas moedas ajudavam para que não lhes faltasse o
necessário.
Rami ficou
órfão muito cedo e sua mão tinha lutado com bastante dificuldade para cria-lo.
Agora, que já estava com dez anos, era com imenso carinho e satisfação que
ajudava a mãe, grato por tudo o que ela fizera por ele.
Certa vez,
Rami voltava para casa depois de um dia de muito trabalho. Vinha cansado e
faminto, quando avistou entre os galhos de uma árvore um brilho diferente.
Aproximou-se
curioso, e, estendendo a mão, apanhou algo dourado e brilhante.
Com
surpresa, viu que ele era um fruto como os outros daquela árvore, só que todo
dourado.
Como é que
aquela árvore pudera, entre suas produções, gerar um fruto de ouro? – pensou ele.
Deveria
valer muito! Era grande e pesado.
Com cuidado,
Rami colocou o fruto precioso dentro da bolsa que levava a tiracolo e apressou
o passo.
Tinha medo
de que alguém o roubasse. Olhou para os lados a ver se ninguém o vira. Estava
só. Ainda bem!
Chegando a
casa narrou o acontecido à mãezinha, dizendo-lhe:
- Creio que
o Senhor ouviu minhas preces, mamãe. Nada nos faltará daqui por diante. Teremos
o necessário para viver com conforto e tranquilidade. Estamos ricos!
E sua mãe
respondeu, satisfeita:
- Espero que
tenha razão, meu filho. Podemos agora ajudar aquela mulher que mora perto do
rio e que é muito mais pobrezinha, nada tendo para alimentar os filhinhos.
- Nada
disso, mamãe! Ela que vá trabalhar como eu – retrucou.
A mãe
fitou-o sem nada dizer, entristecida, e baixou a cabeça.
No dia seguinte,
Rami não foi trabalhar. Disse que precisava ficar em casa para proteger seu
tesouro.
A mão
falou-lhe da necessidade de comprar alimentos. Estavam quase sem ter o que
comer. Era preciso levar o tesouro à aldeia e vende-lo a algum rico senhor.
- Impossível
mamãe. Como transportar o fruto dourado? – disse ele.
Rami temia leva-lo
ao povoado, aguçar a cobiça de algum malfeitor e ser assaltado. Por outro lado,
não poderia sair e deixa-lo em casa, pois alguém poderia entrar e roubá-lo.
- Mas
ninguém sabe da sua existência, meu filho! – dizia a mãezinha carinhosa.
- Nunca se
sabe! Alguém pode ter-me visto apanhando o fruto dourado e ter me seguido até
em casa. Assim, teria uma boa oportunidade para furtá-lo – respondia ele,
convicto.
Ao cabo de
uma semana, Rami estava irreconhecível. Pálido, magro, olhos inquietos e mãos nervosas.
Não se alimentava mais, não trabalhava e nem saia de perto do seu tesouro.
Em poucos
dias caiu doente numa cama, sem forças para nada.
Sua mãe,
preocupada com a saúde do filho, vendo-o definhar cada vez mais, orava a Deus
pedindo proteção. Nessa tarde, Rami, que se entediava na cama sem ter o que
fazer, apanhou distraidamente um pequeno espelho de metal polido que a mãe
esquecera ao seu lado, e mirou-se nele.
Quem era
aquela criatura que ela via? Os olhos vermelhos e inquietos, as faces
macilentas, as profundas olheiras arroxeadas, o rosto de uma magreza extrema...
Não! Não podia ser ele! Estava horrível!
Era “nisso”,
então, que ele tinha se transformado?
Nesse
instante, apavorado com a terrível mudança que se operara nele, tomou uma
decisão.
Levantou-se,
com muito esforço, apanhou o fruto dourado e saiu de casa sem que sua mãe
notasse, jogando-o dentro do rio que corria ali perto.
Rami, agora
longe do seu tesouro, liberto da ambição e do medo, sentia-se outra pessoa.
Voltara a ser o que era antes.
Entrando em
casa, ele contou à mãe o que tinha acabado de fazer, e disse:
- A senhora
tinha razão, mãe. Agora percebo como me transformei por causa do ouro . Graças
a Deus sinto-me livre, como se tivesse tirado um peso enorme dos ombros.
- Nossa
felicidade, meu filho, está na paz de uma consciência tranquila e no dever
cumprido – considerou a mãezinha, satisfeita com a decisão que ele tomara.
-Nunca mais
quero ser rico, mamãe. O Senhor quis me experimentar e não consegui passar na
prova. Mas, ainda bem que acordei a tempo. Amanha mesmo vou trabalhar e voltar
à vida tão boa de antigamente.
Tia Célia
Jormal o
Imortal – Fev, 2009
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