“E lhe trouxeram crianças para que as tocasse; os discípulos, porém, as repreendiam. Vendo isto, Jesus zangou-se e disse-lhes. “Deixai virem a mim as crianças, não o proibais, porque destas é o reino de Deus”. Em verdade vos digo quem não receber reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele”. E abraçando-as, as abençoava, pondo as mãos sobre elas. ( Marcos 10: 13-16)”.
Esta passagem de Jesus nos faz refletir sobre as
lições que podemos apreender da infância. Mesmo reconhecendo na criança um
Espírito já vivido, com experiências e uma história de vida, a infância
propicia uma oportunidade valiosa para o Espírito. Kardec nos esclarece: “Pode-se
assim dize que, nos primeiros anos, o Espírito é realmente criança, pois as
ideias que formam o fundo do seu caráter estão ainda adormecidas. Durante o tempo
em que os instintos permanecem latentes ela é mais dócil, e por isso mesmo mais
acessível às impressões que podem modificar a sua natureza e fazê-la progredir,
o que facilita a tarefa dos pais. O Espírito reveste, pois por algum tempo, a
roupagem da inocência. E Jesus está com a verdade, quando apesar da
anterioridade da alma, toma a criança como símbolo da pureza e da simplicidade”.
(1) E á daí podemos tirar a nossa lição.
Carlos Torres Pastorino, em sua obra Sabedoria do
Evangelho (2). Destrinchando o ensino de Jesus, nos mostra o quanto temos a
aprender com as crianças. Ele nos diz:
“De uma forma ou de outra, é indispensável possuir
certas qualidades, para que se alcance o reino dos céus. Sem pretender enumerar
todas, poderemos citar, como próprio das crianças em tenra idade, as seguintes qualidades”:
1 – a HUMILDADE, que está sempre disposta a reconhecer
sua incapacidade e a esforçar-se por aprender, sem pretender ser nem mais que o
instrutor; e essa qualidade é básica na infância, que aceita o que se lhe
ensina com humildade e fé;
2 – o AMOR, que se prontifica sempre a perdoar e
esquecer as ofensas. A criança pode brigar a sopapos e pontapés, e sair
apanhando, mas na primeira ocasião vai novamente brincar com quem a maltratou,
esquecendo-se totalmente do que houve;
3 – a ÂNSIA DE SABER, coisa que as crianças possuem
até chegar; por vezes, a ponto de exasperar os mais velhos com suas perguntas
constantes, embaraçosas e indiscretas, jamais se dando por integralmente
satisfeitas;
4 – a PERSEVERANÇA que, quando quer uma coisa, não
desiste, mas usa de todas as artimanhas até conseguí-la, com incrível
persistência e teimosia, obtendo o que quer, às vezes, pelo cansaço que causa
aos adultos;
5 – a INOCÊNCIA, sem qualquer malícia, diante de
quaisquer cenas e situações; para as crianças tudo é “natural” e limpo,
mormente se são educadas sem mistérios nem segredos, pois a maldade ainda não
viciou suas almas;
6 – a SIMPLICIDADE, tudo fazendo sem calcular “o que
dirão os outros”, sem ter preconceitos nem procurar esconder qualquer gesto ou
ato, mesmo àqueles que os adultos hipocritamente classificam com “vergonhosos”;
7 – a DOCILIDADE de deixar-se guiar, confiantemente,
pelos mais idosos, sem indagar sequer “aonde vão”. Não podem imaginar traições
nem, enganos, porque eles mesmos são incapazes de fazê-lo, e julgam os outros
por si.
Se tivermos essa conduta, simples e natural, como a criança
(isto é, sem forçar), estará com as qualidades necessárias para poder “receber”
estado de consciência superior que traz à alma a paz que Cristo dá e a
felicidade plena do Espírito.
Se deixássemos nosso coração falar mais alto. Quantas
vezes nos emocionamos ao olhar para uma criança aprendendo suas primeiras
letras... Quantas vezes sorrimos ao escutar perguntas tão absurdas, do ponto de
vista adulto, mas tão comuns vindas das crianças. Quantas vezes sentimos nossa
imensa responsabilidade ao segurarmos a mão de uma criança que prontamente nos
segue, confiando plenamente em nós...
Com a nossa vaidade e orgulho, sempre pensamos estar
do nosso lado à sabedoria e a possibilidade de ensinar, nunca pensamos em
trocar de posição, buscando aprender e crescer a partir dessa relação com a
criança. Que possamos pensar e refletir, e que cada item levantado pro
Pastorino seja uma possibilidade de treino e um exercício em direção ao nosso
crescimento.
Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves de Ribeirão Preto,
SP.
(1) Kardec,
A; O Evangelho Segundo o Espiritismo, LAKE. CapVIII, itens 1-4
(2) PASTORINO,
C T; Sabedoria do Evangelho, Vol. 6, RJ, Sabedoria, 1969, p. 101-104. (Jornal
Verdade e Luz N 170 de Março de 2000)
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