sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

REFLEXÕES SOBRE A "INGRATIDÃO DOS FILHOS E OS LAÇOS DE FAMÍLIA"



Se formos observar, em toda a Obra Kardequiana as mensagens de Aurélio Agostinho se relacionam sempre com a família, porque Santo Agostinho passou por sérios problemas familiares durante sua vida. 

Em primeiro lugar com relação ao seu pai, Patrício. O pai de Santo Agostinho era um homem complicado, com uma vida um pouco desregrada e um tanto quanto livre. 

Patrício era funcionário na prefeitura de Tagaste - na época província romana, hoje é a atual Argélia - mas ele se interessava pelo filho, notava que Aurélio Agostinho era muito inteligente, e queria que ele fosse estudar fazer um curso, como a maioria dos pais desejam para seus filhos.

Graças à generosidade de um amigo de grandes posses de seu pai, chamado Romaniano, Aurélio Agostinho foi enviado para a cidade de Cartago, também na África, para estudar retórica. Nesse meio tempo, Agostinho arranjou uma namorada com a qual teve um filho chamado Adeodato (que significa a presença de Deus), que ele assumiu prontamente. E isso é da mais alta importância, porque nos sabemos que dentro da Doutrina Espírita, espíritos como Emmanuel, André Luiz e outros que comunicaram através de Chico Xavier, sempre chamaram a atenção para o sexo responsável.

Agostinho, portanto, assumiu e cuidou do menino. Mas a mãe de Aurélio Agostinho - Monica, posteriormente, Santa Monica - tinha uma ligação muito grande com ele; não diríamos incestuosa, mas uma ligação que Freud explicou com certa clareza em seu Complexo de Édipo. Ela se preocupava com exagero e ficou completamente arrasada com aquela situação do filho.

Mônica pertencia à raça berbere, que até hoje existe no norte da África, de nômades, e ela, mulher muito complicada, carregava certos costumes, como, por exemplo, levar comida para os familiares que haviam morrido colocando em suas sepulturas.

Aurélio Agostinho procurou de todas as formas, fazer com que sua mãe mudasse seu comportamento apegado, suas atitudes, mas em vão. A única coisa solução que ele encontrou foi se transferir para Roma – ele era professor de retórica nessa época. Mas para viajar ele teve que usar um artifício, uma mentira, que depois, com certeza, trouxe para ele um sentimento de culpa. Quando ia viajar para a capital do império, a mãe dele, um tanto quanto desconfiada, não desgrudava do filho e, o acompanhou até o porto. Aí então, Agostinho pediu à sua mãe que entrasse num templo que havia ali perto e fizesse uma oferenda e, disse a ela que iria até o navio ancorado levar uma “encomenda” para um amigo - era mentira. Na embarcação já estavam a sua mulher e o filho Adeodato, aguardando para partirem rumo a Roma. E naturalmente Agostinho não voltou. Ele deixou sua mãe “esperando” e seguiu viagem. Tempos depois, sua mãe, Mônica, também seguiu para Roma.

Em Roma, um grande amigo de Aurélio Agostinho, Alípio, queria que ele se casasse com uma garota de 12 anos, ele que já era um homem de 33 anos, e Agostinho falou ao amigo: “Eu não posso fazer isso, é um absurdo!”. E continuou com a namorada, mãe de seu filho, até que, certo dia, a senhora sua mãe chegou a Roma e exigiu que Aurélio mandasse sua mulher de volta para África e que não continuasse com aquele relacionamento de concubinato.

Veja, caro leitor, que relacionamento familiar é um assunto muito sério na vida de Santo Agostinho.

Há um livro de Aurélio Agostinho – “De Magistro” - em que o seu filho Adeodato participa do diálogo e, aí notamos que o garoto era de uma inteligência brilhante. Adeodato morreu com 16 anos de idade. Nesta época, Agostinho entrou numa depressão muito grave e, então, ele foi para um retiro campestre pensar em sua vida, encontrar um propósito para sua vida. Até que seu grande amigo Alípio sugeriu a ele que fosse para uma grande praça e lesse trechos das epístolas de Paulo e, assim ele fez. Abrindo a esmo a parte das epístolas, caiu no versículo Romanos 13:13, que diz: “Andemos honestamente, como de dia: não em glutonarias e bebedeiras, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e inveja”. Enquanto ele lia, ouviu uma voz de criança, que ele não sabia se era uma menina ou um menino, que apenas disse: “Toma e lê”. Ele abriu o Evangelho e sentiu que a partir daquele momento precisava seguir o Cristo. Havia necessidade, realmente, de mudar o rumo de sua vida. Assim, Aurélio Agostinho recebeu o amparo do bispo daquela localidade que propiciou meios e condições para ele estudar as Escrituras Sagradas e a vida dele prosseguiu, com sua mãe junto a ele, com seu amor doentio.

É bom saber disso para que pensemos na questão do apego (exagerado) que a maioria das mães tem pelos filhos. Sempre digo que a mãe não tem que se apegar aos filhos. A mãe tem que valorizar o marido e, deixar os filhos, para que eles sejam filhos do mundo. Tanto que há um médico italiano autor de um livro já traduzido para o português, em que ele cita o caso de outro médico que recebeu na condição de filho uma criança com severo retardo mental e, mesmo assim, este médico agradeceu a Deus por ter tido aquele filho, porque ele sabia que o único filho que é realmente do papai e da mamãe é aquele que tem um retardamento mental ou outras doenças incapacitantes. Filhos saudáveis são filhos do mundo! Em minha opinião, isso é muito importante para tomarmos cuidado com a forma como falamos dos filhos, porque, nós pais, temos a mania de dizer: “Meu filho, minha filha” e na verdade deveríamos falar: “Meu irmão, minha irmã” - que estão na condição atual de filho e filha. Somos todos filhos de Deus. A nossa mania de dizer “o meu isso, o meu aquilo” ocorre porque temos a tendência do amor possessivo.

O psicanalista alemão Erich Fromm nos mostra em seu livro a “Arte de Amar” que o amor possessivo é um amor infantil, imaturo, e este amor apenas prejudica as pessoas. O amor verdadeiro, maduro, deixa a pessoa amada livre para que possa seguir seu caminho. É libertador.

Mas voltando a Aurélio Agostinho, quando sua mãe faleceu em Roma, houve com ele um fenômeno mediúnico: ele viu o espírito da mãe e novamente entrou numa fase de depressão por causa desta situação. Observe, caro leitor, que Aurélio Agostinho precisava realmente escrever sobre a família porque ele viveu situações familiares um tanto quanto complicadas.

Agostinho foi contemporâneo de São Jerônimo – tradutor da Bíblia do grego para o latim - e ele, seguindo as ideias deste santo, passou a combater o sexo. Aurélio Agostinho tinha um bloqueio nesta área por causa de sua mãe, que, de forma inconsciente causou nele o que a psicanálise chama de “castração psicológica”. Assim, muito preocupado, passou a partir desta época a combater o sexo e chegou até a dizer: “O sexo está entre fezes e urina”, sendo que, como todos sabem, é através do sexo que o processo da reencarnação se processa.

Conhecendo melhor a vida de Santo Agostinho, é muito importante nos lembrarmos daquilo que ele diz sobre a ingratidão: “Quando eu sinto que uma pessoa agiu com ingratidão a meu respeito é porque o que eu fiz para aquela pessoa foi por orgulho, por interesse. Se faço alguma coisa a alguém com desprendimento eu jamais vou sentir ou achar que aquela pessoa é ingrata, ela naturalmente não me agradeceu, mas eu não estou preso à necessidade de agradecimento”.

Portanto, meus irmãos, o item do Capítulo 14 do Evangelho Segundo o Espiritismo intitulado “A ingratidão dos filhos e os laços de família”, escrito por Santo Agostinho, em Paris, 1862, vem mostrar que os filhos são espíritos que vem ao nosso encontro para acerto de contas - a grande maioria -, e outros para nos auxiliarem, nos darem forças, para que possamos prosseguir em nossa jornada, vencer aqueles obstáculos, superar aquelas dificuldades que nós não vencemos em vidas passadas.

Por conseguinte, nós, espíritas, precisamos estudar a Doutrina Espírita para entendermos essa mecânica da ligação do filho com a mãe e da ligação da filha com o pai, e compreendermos que o Complexo de Édipo, estudado por Sigmund Freud, pode ser explicado à luz da Doutrina Espírita, que dá explicação para tudo. No livro "Obreiros da Vida Eterna”, de André Luiz, através de Chico Xavier, nas páginas 32 a 34, há uma palestra no Nosso Lar do Dr. Barcellos, psiquiatra desencarnado, para várias pessoas, dentre elas André Luiz. E o Dr. Barcellos afirma que: “O que falta a Freud e seus seguidores é a noção dos princípios reencarnacionistas...”

Assim, lembremos que é preciso estudar a Doutrina Espírita todos os dias, imitar o nosso Chico Xavier que lia Allan Kardec diariamente. Devemos também ler e percorrer os livros recebidos por Chico Xavier e reler os livros não só de Emmanuel e André Luiz, mas também os livros dos poetas – “Antologia dos Imortais”, “O Parnaso de Além-Túmulo” etc.

Mas por que os poetas? Porque na poesia a comunicação é direta do inconsciente do poeta para o inconsciente do leitor. Isso explica a dificuldade das pessoas em ler poesias, pois elas podem ter medo de que o poeta leve até elas alguma coisa que seu inconsciente teme aceitar. Por exemplo, quando lemos as poesias de Cornélio Pires, aqueles personagens dele, na verdade, somos nós, ele usa aqueles nomes caipiras e roceiros, situações engraçadas e pitorescas para mostrar nossa realidade que, muitas vezes, não queremos ver.

Portanto agradeçamos a Deus poder estudar a Doutrina Espírita e peçamos a Ele para que continuemos firmes na prática do bem tanto quanto possível, sempre nos identificando com o Cristo em Espírito e Verdade! (2) (3)

(1) Dr. Elias Barbosa é médico psiquiatra, professor e escritor espírita, nascido em 1934 e desencarnado em 2011.

(2) Esse trecho foi transcrito de uma palestra realizada por Dr. Elias Barbosa, quando ele comentava o Capítulo XIV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, item 9 – Instruções dos Espíritos – “A ingratidão dos filhos e dos laços de família”, ditado por Santo Agostinho, Paris, 1862.
Elias Barbosa.
(3) Transcrição feita por Fernando Ferreira Filho, genro do Dr. Elias Barbosa.


Extraído do blog Espiritismo na Rede
https://marcoaureliorocha5.blogspot.com/2012/03/reflexoes-sobre-ingratidao-dos-filhos-e.html?showComment=1546650217799

DIFICULDADES DOS PAIS EM SE APROXIMAR DOS ADOLESCENTES por Carolina Von Scharten


Queridos pais e amigos,
Dando continuidade a série de artigos ligada a família, vamos falar sobre os adolescentes.
Na fase da adolescência, de acordo com a Rita Foelker, é a época em que os filhos 
colocam em cheque todos os aprendizados adquiridos ao longo dos anos pelos seus pais. 
Nessa fase, os jovens questionam todas as suas crenças. Devemos nos lembrar do
significado da palavra crença. O Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis nos diz
que crença são opiniões que se adotam com fé e convicção. 
De acordo com Rosemeire Zago, que é psicóloga clínica com abordagem junguiana, 
crença é aquilo que aprendemos desde criança e adotamos como verdade.Evidentemente,
algumas  são verdadeiras, outras não. 
 Quando somos crianças, pequenas e dependentes, ouvimos sem questionar, acreditando 
cegamente em nossos pais e nos adultos mais próximos, como se fossem donos de toda 
sabedoria e verdade, afinal são nossas únicas referências. Ou seja, aprendemos em casa com
nossos pais, irmãos, avós... 
Depois, conforme vamos crescendo, aprendemos na escola, através da mídia, da internet, 
dos amigos... Enfim, são infinitas as mensagens que recebemos diariamente das mais 
diversas fontes. 
Muitas são captadas sem percebermos e ficam registradas em nossa mente. 
Quando chegamos a essa fase, colocamos todos esses conceitos a teste, mas 
principalmente o que aprendemos dos nossos principais educadores: os nossos pais. 
Esse período pode vir a ser bem delicado para um pai e/ou uma mãe, pois a mudança
 na atitude do seu filho pode ser radical. A melhor forma de agirmos nessa época é
manter a calma e a paciência para que nenhuma ação precipitada tome força. 
O poder da oração deve ser usado, bem como o cuidado com as palavras a serem ditas.
Como nos ensinou Chico Xavier, quando alguém lhe fizer provocações, beba um 
pouco de água pura e conserve-a na boca. Não a lance fora nem a engula.
Enquanto persistir a tentação de responder, guarde a água da paz banhando a língua.
Dessa forma, poderemos agir de uma forma mais pacífica com os nossos filhos 
adolescentes. 
Amor, carinho e compreensão são imprescindíveis a eles, pois todos nós fomos jovens 
um dia, a algum tempo atrás.
 O exemplo salutar também se torna essencial pois já sabemos que o ditado 
popular ‘Faça o que digo, mas não faça o que eu faço não funciona. 
Temos que ser fiéis ao que pregamos, e essa sim será a forma mais eficaz de chegar aos 
adolescentes: pelo coração. 
Carolina von Scharten
Equipe de Evangelização Sir William Crookes Spiritist Society

A IMPORTÂNCIA DE FAZERMOS O EVANGELHO COM OS FILHOS


Queridos pais e amigos,

 

Dando continuidade à série de artigos ligada a família, vamos falar sobre o evangelho no lar. Esse momento é uma reunião fraterna semanal dos componentes do Lar, sob o amparo de Jesus.

Entre as finalidades do Evangelho no lar está:

Higienizar o lar pelos pensamentos e sentimentos elevados, permitindo assim, mais fácil influência dos Mensageiros do Bem;

Elevar o padrão vibratório dos componentes do lar, a fim de que ajudem, com mais eficiência, o Plano Espiritual na obtenção de um mundo melhor.

Quando as pessoas de uma família estão juntas orando, elas recebem o auxílio de espíritos evoluídos simpáticos à família, que acompanham a reunião;

Ambiente espiritual melhora sensivelmente, pois não só a família amplia a sintonia com os espíritos elevados, como também a prática da oração facilita o trabalho da equipe espiritual, que esclarece e encaminha os espíritos menos inferiores que se encontram naquela casa;

Estabelece-se uma proteção magnética em volta do lar, protegendo-o das vibrações inferiores e auxiliando os moradores a se harmonizarem.

Vamos nos lembrar de que no livro “Missionários da Luz”, no cap. 6, André Luiz fala sobre os benefícios da oração e a importância do Evangelho no Lar. O lar permanece fluidicamente protegido, em virtude do hábito da oração e da vida reta.

O Evangelho no Lar é muito importante para ajudar harmonizar o ambiente e despertar a religiosidade nos filhos. Dentro dos deveres dos pais:

É tarefa dos pais promover a moralização e a espiritualização de seus filhos, e não apenas a intelectualização deles.

Os pais devem cuidar de ensinar religiosidade para os filhos desde a mais tenra idade, tanto no lar, como no templo religioso.

Os pais devem viver uma vida digna, honrada, sóbria, pura, que sirva e modelo a seus filhos.

Nada melhor do que o exemplo para que os filhos sigam um modelo de vida salutar e sob a benção do Mestre Jesus. Agora, como fazemos o evangelho de Jesus no lar?

1 Escolha um dia da semana e horário para a reunião com os familiares. Lembre-se: a assiduidade e a pontualidade são muito importantes! (pois a espiritualidade tem muito trabalho e a disciplina rege a todos – nota da Escolinha Espírita)

2 Coloque na mesa um jarro com água para fluidificação para benefício de todos, servindo-a, ao final do culto, aos participantes. Todavia, pode sê-lo em caráter particular para determinado enfermo.

3 Prece Inicial. Recomenda-se que a prece seja simples e espontânea;

4 Leitura de uma página de mensagem ou uma mensagem de um CD. Alguns livros remendados para essa leitura seriam:


Pão Nosso, de Francisco Cândido Xavier;
Fonte Viva, de Francisco Cândido Xavier;
O Espírito da Verdade, de Francisco Cândido Xavier;
Parábolas Evangélicas, de Rodolfo Calligaris;
Pai Nosso, de Francisco Cândido Xavier (para as crianças).
Alvorara Cristã, de Francisco Cândido Xavier (para as crianças).

5 Leitura do Evangelho Segundo o Espiritismo (ou outra obra cristã escolhida pela família);

6 Comentários sobreo texto lido. Os comentários devem ser de forma acessível a todos, sem polemizar;

7 Prece de Encerramento. Recomenda-se que a prece seja simples e espontânea;

O ideal seria que todos os membros da família participassem do evangelho. Porém, se alguém não quiser participar, não se deve forçá-lo. Durante a prece, pelo pensamento ele estará ligado às vibrações da equipe espiritual. Com o tempo e com a melhora do ambiente familiar certamente ele irá aproximar e participará de livre e espontânea vontade.

Carolina Von Scharten
Equipe de Evangelização Sir William Crookes Spiritist Society



terça-feira, 1 de janeiro de 2019

A LIÇÃO DAS CRIANÇAS



“E lhe trouxeram crianças para que as tocasse; os discípulos, porém, as repreendiam. Vendo isto, Jesus zangou-se e disse-lhes. “Deixai virem a mim as crianças, não o proibais, porque destas é o reino de Deus”. Em verdade vos digo quem não receber reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele”. E abraçando-as, as abençoava, pondo as mãos sobre elas. ( Marcos 10: 13-16)”.


Esta passagem de Jesus nos faz refletir sobre as lições que podemos apreender da infância. Mesmo reconhecendo na criança um Espírito já vivido, com experiências e uma história de vida, a infância propicia uma oportunidade valiosa para o Espírito. Kardec nos esclarece: “Pode-se assim dize que, nos primeiros anos, o Espírito é realmente criança, pois as ideias que formam o fundo do seu caráter estão ainda adormecidas. Durante o tempo em que os instintos permanecem latentes ela é mais dócil, e por isso mesmo mais acessível às impressões que podem modificar a sua natureza e fazê-la progredir, o que facilita a tarefa dos pais. O Espírito reveste, pois por algum tempo, a roupagem da inocência. E Jesus está com a verdade, quando apesar da anterioridade da alma, toma a criança como símbolo da pureza e da simplicidade”. (1) E á daí podemos tirar a nossa lição.

Carlos Torres Pastorino, em sua obra Sabedoria do Evangelho (2). Destrinchando o ensino de Jesus, nos mostra o quanto temos a aprender com as crianças. Ele nos diz:

“De uma forma ou de outra, é indispensável possuir certas qualidades, para que se alcance o reino dos céus. Sem pretender enumerar todas, poderemos citar, como próprio das crianças em tenra idade, as seguintes qualidades”:

1 – a HUMILDADE, que está sempre disposta a reconhecer sua incapacidade e a esforçar-se por aprender, sem pretender ser nem mais que o instrutor; e essa qualidade é básica na infância, que aceita o que se lhe ensina com humildade e fé;

2 – o AMOR, que se prontifica sempre a perdoar e esquecer as ofensas. A criança pode brigar a sopapos e pontapés, e sair apanhando, mas na primeira ocasião vai novamente brincar com quem a maltratou, esquecendo-se totalmente do que houve;

3 – a ÂNSIA DE SABER, coisa que as crianças possuem até chegar; por vezes, a ponto de exasperar os mais velhos com suas perguntas constantes, embaraçosas e indiscretas, jamais se dando por integralmente satisfeitas;

4 – a PERSEVERANÇA que, quando quer uma coisa, não desiste, mas usa de todas as artimanhas até conseguí-la, com incrível persistência e teimosia, obtendo o que quer, às vezes, pelo cansaço que causa aos adultos;

5 – a INOCÊNCIA, sem qualquer malícia, diante de quaisquer cenas e situações; para as crianças tudo é “natural” e limpo, mormente se são educadas sem mistérios nem segredos, pois a maldade ainda não viciou suas almas;

6 – a SIMPLICIDADE, tudo fazendo sem calcular “o que dirão os outros”, sem ter preconceitos nem procurar esconder qualquer gesto ou ato, mesmo àqueles que os adultos hipocritamente classificam com “vergonhosos”;

7 – a DOCILIDADE de deixar-se guiar, confiantemente, pelos mais idosos, sem indagar sequer “aonde vão”. Não podem imaginar traições nem, enganos, porque eles mesmos são incapazes de fazê-lo, e julgam os outros por si.

Se tivermos essa conduta, simples e natural, como a criança (isto é, sem forçar), estará com as qualidades necessárias para poder “receber” estado de consciência superior que traz à alma a paz que Cristo dá e a felicidade plena do Espírito.

Se deixássemos nosso coração falar mais alto. Quantas vezes nos emocionamos ao olhar para uma criança aprendendo suas primeiras letras... Quantas vezes sorrimos ao escutar perguntas tão absurdas, do ponto de vista adulto, mas tão comuns vindas das crianças. Quantas vezes sentimos nossa imensa responsabilidade ao segurarmos a mão de uma criança que prontamente nos segue, confiando plenamente em nós...

Com a nossa vaidade e orgulho, sempre pensamos estar do nosso lado à sabedoria e a possibilidade de ensinar, nunca pensamos em trocar de posição, buscando aprender e crescer a partir dessa relação com a criança. Que possamos pensar e refletir, e que cada item levantado pro Pastorino seja uma possibilidade de treino e um exercício em direção ao nosso crescimento.

Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves de Ribeirão Preto, SP.
 
(1)   Kardec, A; O Evangelho Segundo o Espiritismo, LAKE. CapVIII, itens 1-4
(2)   PASTORINO, C T; Sabedoria do Evangelho, Vol. 6, RJ, Sabedoria, 1969, p. 101-104. (Jornal Verdade e Luz N 170 de Março de 2000)




COMO AS CRIANÇAS PENSAM




Será que a criança pensa como a gente, nos seus primeiros anos de vida?

Nosso pensamento é predominantemente verbal, pensamos como se falássemos para nós mesmos, em voz baixa.

Será assim também que a criança pensa? Que instrumentos ela tem, desde o início de sua vida aqui conosco, para pensar?

Piaget foi um dos teóricos que nos mostrou de forma extremamente meticulosa e interessante  estas coisas que acontecem no desenvolvimento intelectual durante a infância, e a partir destes conhecimentos podemos entender profundamente este processo.

O que se sabe hoje é que a criança, ao nascer, já tem certas capacidades inatas, ligadas à própria sobrevivência, tais como os atos reflexos de sugar e engolir.

Sabemos que tem o movimento que seus sentidos, ainda que de forma meio rudimentar, já estão presentes. Sabe-se ainda que o meio-soial e cultural em que ela se insere é que vai dar as primeiras coordenadas para seu desenvolvimento.

Estes são os instrumentos que recebe o nascer e que, a partir deles, ela vai começar a (re)construir-se como pessoa humana.

Considerando o Espírito como imortal, sabendo de sua longa experiência anterior, ao nascer aqui ele submete-se a estas novas condições, passando por este processo de reconstrução a cada nova experiência, o que lhe é extremamente positivo.

Antes de dominar bem a linguagem, o pensamento da criança apoia-se em outros elementos para desenvolver-se, tais como as próprias sensações ligadas aos sentidos.

O  pensamento é mais global, no sentido de representar mentalmente cada experiência, apreendendo a imagem, o cheiro, o gosto, as sensações... Cada experiência vivida, cada ideia, cada objeto novo conhecido vai ganhando uma imagem mental..

Um exemplo bem ilustrativo dessa situação, e vocês devem ter vários também, é o de uma criança de aproximadamente três anos, que queira ir ao "clube do sapato", e pedia insistentemente à mãe que a levasse.

Ninguém compreendia o que esta menina queria, e que lugar era esse, até que se decobriu que o tal clube era, na realidade, o "tênis clube". Ora, o que aconteceu?

Provavelmente a menina, ao ouvir pela primeira vez o nome do clube, mentalizou-o na forma das imagens conhecidas por ela, no caso o tênis (como sapato) e um clube. No momento de transfomar novamente em linguagem aquela imagem por ela reconstruída, houve uma pequena alteração, suficiente para dificultar o entendimento dos adultos à sua volta.



O surgimento da linguagem representa um salto enorme no desenvolvimento infantil, pois amplia-se a capacidade de comunicação, organização das ideias e reflexão. A linguagem, com todas estas vantagens citadas, não se apresenta numa forma única. Há a fala verbal ou oral, mas há também a linguagem gestual, escrita, etc. É ela que marca o início da possibilidade de representar, de usar mediadores entre ela própria e o mundo, como nos ensinou Vygotsky. 

Ao aprender e dominar a linguagem (principalmente a verbal, para as pessoas sem deficiência auditiva ou de fala) a criança vai internalizando-a, formando assim este pensamento verbal que nós temos hoje (o pensamento das pessoas surdas-mudas constitui-se de forma semelhante, a partir de outras formas de linguagem que elas dispõem). 


Em que medida saber como a criança pensa pode ser importante para nós? Tal conhecimento pode nos dar consciência de quanto podemos contribuir na reconstrução desta criança enquanto sujeito, pois seu pensamento vai sendo constituído a partir de seus próprios movimentos, de seus sentidos, de suas experiências com o outro...
 
O pensamento verbal, reflexivo, e que possibilita ordenar e organizar o próprio pensamento infantil não surge do nada, mas é construído passo a passo pela própria criança, a partir das interações que ela mantém em seu meio. Assim também ocorre com os valores, ainda que de forma rudimentar.

Somente mais tarde a influência dos adultos sobre ela deixa de ser tão forte. Até então, pode-se inclusive alterar, quase completamente, suas características íntimas (“reformar o seu caráter”, como nos diz Kardec, em O Livro dos Espíritos, perg. 385), advindas da bagagem trazida de experiências em vidas passadas. Pois novas experiências representam novas construções, e este período inicial, em função de ter como tarefa principal a construção do pensamento e de si mesmo, como sujeito - posto que nem o pensamento verbal está pronto - é extremamente propício a isto.

 Saibamos aproveitar cada momento desta fase de nossas crianças, cada parte deste processo tão bonito e agora compreensível em parte para nós, graças aos estudos feitos nesta área do desenvolvimento infantil. Ao contrário do que muitos supunham, quanto mais à ciência caminha, mais perto chegamos da compreensão destes processos como parte de uma filosofia maior da evolução humana e do Espírito imortal.  

 Marlene Fagundes Carvalho Goncalves

Ribeirão Preto-SP Jornal “Verdade e Luz” de maio/97. (Jornal Mundo Espírita de Maio de 1997)‏



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