A família é o resultado do largo processo evolutivo do
espírito na extensa trajetória vencida por meio das sucessivas reencarnações.
Resultado do instinto gregário que une todos os animais,
aves, répteis e peixes em grupo que se auxiliam e se interdependem
reciprocamente, no ser humano atinge um estágio relevante e de alta
significação, em face da conquista do raciocínio, da consciência.
Dessa forma, a família é o alicerce sobre o qual a sociedade
se edifica, sendo o primeiro educandário do espírito, onde são aprimoradas as
faculdades que desatam os recursos que lhe dormem latentes.
A família é a escola de bênçãos onde se aprendem os deveres
fundamentais para uma vida feliz e sem cujo apoio fenecem os ideais, desfalecem as aspirações,
emurchecem as resistências morais.
Quando o indivíduo opta pela solidão, exceção feita aos
grandes místicos e pesquisadores da ciência, filósofos e artistas que abraçam
os objetivos superiores como a sua família, termina sendo portador de
transtornos da conduta e da emoção.
Organizada, a família, antes da reencarnação, quando são
eleitos os futuros membros que a constituirão, ou sendo resultado da precipitação
e imprevidência sexual de muitos indivíduos, é sempre o santuário que não pode
ser desconsiderado sem graves prejuízos para quem lhe perturbe a estrutura.
É permanente oficina onde se caldeiam os sentimentos e as
emoções, dando-lhes a direção correta e a orientação segura para os
empreendimentos do futuro.
Por essa razão, é que não se vive na família ideal, aquela
na qual se gostaria de conviver com espíritos nobres e ricos de sabedoria, mas
no grupo onde melhormente são atendidas as necessidade da evolução.
Não poucas vezes, no grupo doméstico ressuma as
reminiscências perturbadoras do Além ou de outras existências, que devem ser
trabalhadas pelo cinzel da misericórdia, da tolerância e da compaixão, a fim de
que sejam arquivadas como diferentes emoções enobrecidas, que irão contribuir
em favor do progresso de todos.
De inspiração divina, a família é a oportunidade superior do
entendimento e da vera fraternidade, de onde surgirá o grupo maior, equilibrado
e rico de valores, que é a sociedade.
Por isso, no momento em que a família se desestrutura sob os
camartelos da impiedade e da agressão, ou se dilui em face da ilusão acalentada
pelos seus membros, ou se desmorona em razão da imprevidência, a sociedade
sofre um grande constrangimento.
No lar, fomentam-se e desenvolvem-se os recursos da
compreensão humana ou da agressividade e ressentimento contra as demais
criaturas.
A constelação familiar não é uma aventura ao país enganoso
do prazer e da fantasia, mas uma experiência de profundidade, que faculta a verdadeira
compreensão da finalidade da existência terrena com os olhos postos no futuro
da humanidade.
Campo experimental de lutas íntimas e externas constitui
oportunidade incomum para que o espírito se adestre nos empreendimentos
pessoais, sem perder o contato com a realidade externa, com as demais pessoas.
Mesmo quando não correspondendo às expectativas pessoais, em
face do reencontro com adversários ou caracteres inamistosos, no lar adquire-se
a necessária filosofia existencial para conduzir-se com equilíbrio durante toda
a existência.
O exercício da paciência no clã familiar é valiosa contribuição
para a experiência iluminativa, porquanto, se aqueles com os quis se convive
tornam-se difíceis de ser amados, gerando impedimentos emocionais que se
sucedem continuamente, como poder-se vivenciar o amor em relação a pessoas com
as quais não tem relacionamento senão por paixão ou sentimentos e interesses
imediatista?
O lar, onde se é conhecido e muito dificilmente se podem
ocultar as mazelas interiores, são lapidadas as imperfeições em contínuos
atritos que não devem resvalar para os campeonatos da indiferença ou do ódio, do
ciúme ou da revolta.
Aquele que hoje se apresenta agressivo e cínico no grupo
doméstico, dando lugar a guerrilhas perversas, encontra-se doente da alma,
merecendo orientação e exigindo mais paciência.
Ninguém se torna infeliz por mero prazer, mas em consequência
de muitos fatores que lhe são desconhecidos. O próprio paciente ignora o
distúrbio de que é portador, detendo-se, invariavelmente, no tormento em que se
debate, sem capacidade de discernimento para avaliar os danos que produz no
grupo onde se encontra, nem compreensão do quanto necessita para auto
superar-se e agir corretamente.
Por isso mesmo, transforma-se em desafio familiar,
conduzindo altas cargas tóxicas de antipatia, de agressividade, de desequilíbrio.
A constelação familiar recorda o equilíbrio que vige no
universo: os astros menores giram atraídos pela força dos maiores, no caso
específico das estrelas, planetas, satélites e asteroides... No caso, em tela,
são os pais as estrelas de primeira grandeza cuja força gravitacional impõe-se
aos filhos, na condição de planetas à sua volta, assim como de futuros
satélites que volutearão no entorno sob a atração da afetividade, que são todos
aqueles que se vinculam aos descendentes...
Nos astros há perfeita harmonia em face das leis cósmicas
que os mantêm em contínuo equilíbrio. No entanto, na família, em razão dos
sentimentos, das individualidades, das experiências transatas, o fenômeno é
muito diferente, oscilando o equilíbrio conforme o desenvolvimento ético-moral
de cada qual, que se apresenta conforme é e não consoante gostaria de ser.
Por mais combatida pelos novos padrões da loucura que grassa
na Terra, a família não desaparecerá do contexto social, na condição de
instituição superada, porque o amor que sempre existirá nos corações se
expressará em maior potencialidade no lar, núcleo de formação que é para
expandir-se na direção do colossal grupo humano.
Quem não consegue a capacidade de amar aqueles com os quais
convive, mais dificilmente poderá amar aqueloutros que não conhece.
O combustível do amor se inflama com maior potencialidade
quando oxigenado pela convivência emocional. Noutras condições, trata-se apenas
de atração física passageira, de libido exagerada que logo cede lugar ao
desencanto, ao tédio, ao desinteresse...
A família, portanto, é um núcleo de aformoseamento
espiritual, que enseja aprendizagem de relacionamentos futuros exitosos.
No grupo animal, quando os filhos adquirem a capacidade de
conseguir o alimento, os pais abandonam-nos, quando isso excepcionalmente em
algumas espécies não ocorre antes.
No círculo humano da família é diferente: os laços entre
pais e filhos jamais se rompem, mesmo quando há dificuldades no relacionamento
atual, o que exige transferência para outras oportunidades no futuro
reencarnacionista, que se repetem até a aquisição do equilíbrio afetivo.
É da Divina Lei que somente através do amor o espírito
encontra a plenitude, e a família é o local onde se aprimora esse sentimento,
que se desdobra em diversas expressões de ternura, de abnegação, de
afetividade...
Com o treinamento doméstico o espírito adquire a capacidade
de amar com mais plenitude, alcançando a sociedade, que se lhe transforma em família
universal.
Joanna de Ângelis – livro Constelação Familiar – cap. 2 -
psicografia de Divaldo Pereira Franco
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