A família é a base fundamental sobre a qual se ergue o imenso edifício da sociedade.
No pequeno grupo doméstico inicia-se a experiência da fraternidade
universal. Ensaiando-se os passos para os nobres cometimentos em favor da
construção da sociedade equilibrada. Em razão disso, toda vez que a família se
entibia ou se enfraquece a sociedade experimenta conflitos, abalada nas suas
estruturas.
Vive-se, na Terra, destes dias, injustificáveis agressões à
constelação familiar, defluente dos transtornos e insatisfações que tomam as
mentes e os corações juvenis.
Aturdidos, ante os tormentos que vêm assaltando os adultos,
alguns, irresponsáveis, outros, imaturos em relação aos compromissos graves do
lar, que se deixam arrastar pelas utopias do prazer, em detrimento das bênçãos
do dever em relação à família, desgarram-se, e, sem rumo, atiram-se nos
resvaladouros da alucinação, desesperados, investindo contra o instituto
doméstico.
A aparente falência das uniões consagradas pelo matrimônio,
assim como a de todas aquelas que frutesceram em descendentes, não é da
família, mas da desestruturação da ética e da moral, vitimadas pelas mudanças
impostas pelos denominados novos tempos, nos quais, escravizando-se às paixões
dissolventes, os indivíduos optam pela ansiosa conquista das coisas e dos
fetiches da tecnologia que os distraem e entorpecem.
A decadência dos dogmas arbitrários e dos estatutos
punitivos estabelecidos por algumas doutrinas religiosas do passado, que vêm
sucumbindo ante os camartelos da evolução científica e experimental, tem
facultado maior espaço para a ampliação do materialismo existencialista
centrado no corpo toada à realidade da vida, e através do seu uso a única
oportunidade de desfrutar os gozos, que logo se consomem ante a presença da
morte.
Em assim sendo a realidade humana, a pressa pela fruição de
todas as sensações possíveis apresenta-se na condição de meta que deve ser
alcançada a qualquer preço, para não se perder a oportunidade de viver bem,
quando o ideal seria bem-viver.
O irrefragável passar do tempo, cada dia com maior
celeridade, em face das complexas engrenagens existenciais e da busca para a
manutenção da vida, oferece uma visão incorreta em torno da sua dimensão.
Aqueles que se debatem na ambição e se esfalfam pelo ter, pelo poder, pelo
desfrutar, veem-no rápido demais para atender a todas as suas necessidades.
Aqueloutros, que se encontram em conflitos, irrealizados, enfermos, acreditam
que ele não transcorre com deveria, e sim morosa, dolorosamente...
Como efeito, os jovens atiram-se nos emaranhados processos
de busca do deleite sem qualquer freio, enquanto os adultos apresentam os
primeiros sinais de cansaço, tentando renovar programas em favor de novas
satisfações, ao tempo em que os velhos, ante tantas facilidades que não fruíram
antes, em razão dos preconceitos e dos limites impostos na época, deprimem-se,
lamentando o que consideram haver perdido...
Nesse báratro, a família torna-se um campo de lutas ásperas
entre os princípios de equilíbrio que a devem constituir e as facilidades que
proporcionam correspondência em relação aos desvarios propostos por pensadores
de ocasião e pelas aberrações divulgadas através da mídia extravagante.
Inexperientes e deseducados, animados mais à astúcia do que
à inteligência e à razão, tornam-se vítimas fáceis das armadilhas que encontram
pela frente, sem as perceber...
Faltando o lar seguro, buscam organizar tribos e reagem a
tudo que os vincule à estrutura familiar, dando lugar a novos hábitos e a
costumes próprios, matando as imagens ancestrais e construindo a própria
identidade, agressiva e arrogante, estranha e especial, em nome da liberdade de
pensamento e de ação, que o tempo demonstra frágil e sem sustentação a longo
prazo.
Os pioneiros e militantes dos movimentos rebeldes dos anos
sessenta, hoje envelhecidos, arrependidos uns, enfermos outros, dependentes da
drogadição ainda outros tantos, sem nos referirmos aos que foram devorados
pelos vícios, pelas enfermidades, que transformaram o sonho em sofrimento, reveem
os programas fantasiosos e alucinantes daquela época tomados pela amargura e
pelo cansaço...
Incontáveis deles, incapazes de construir família, mudaram
de parceiros conforme os ventos da sensação e da moda produziram frutos
amargos, na condição de filhos mais rebeldes e mais insatisfeitos do que eles
próprios, com as exceções compreensíveis, terminando a caminhada terrestre hoje
desacompanhados, pessimistas e tristes.
A família, no entanto, vem sobrevivendo estoicamente aos
golpes que lhe têm sido desferidos, os códigos de ética, lentamente vem sendo
revividos, aumentando o número de matrimônios, enquanto diminui o de divórcios,
em respeito à monogamia, a mais elevada expressão do afeto, no processo da
evolução antropossociopsicológica, à fidelidade e ao respeito pelo outro...
O ser humano é estruturalmente constituído para viver em
família, a fim de desenvolver os sublimes conteúdos psíquicos que lhe jazem
adormecidos, aguardando os estímulos da convivência no lar, para liberá-los e
sublimar-se.
Quando procria com responsabilidade atinge um dos momentos clímax
da existência, especialmente quando se torna consciente do significado da
progenitura.
Em forma de instinto que confere aos animais o cuidado com a
prole e o seu amparo, no ser humano essa energia atinge a faixa de sentimento
superior, que induz ao zelo e à proteção, chegando mesmo ao sacrifício em favor
da sua preservação. Quando ocorre o contrário, trata-se de uma patologia, um
transtorno de natureza psicológica ou psiquiátrica.
Há, em todas as formas de vida, essa energia divina que, no
ser humano, apresenta-se em forma de consciência, de discernimento, de razão,
de amor, de sabedoria.
Na família, esse nobre sentimento encontra campo fértil para
desenvolver-se felicitando os seres frágeis que reiniciam a jornada, bem como
aqueles que lhes constituem a segurança.
Por essas e muitas outras razões, a constelação familiar
jamais desaparecerá da sociedade terrestre, dando lugar ao enfermiço egoísmo,
pelo contrário, superando-o com beleza espiritual.
Acompanhando o processo de evolução que se opera no planeta
abençoado, que nos serve de colo de mãe para o crescimento na direção do
Genitor Divino, reflexionamos por largo período em torno da família e reunimos,
no presente livro, trinta temas que dizem respeito à afetividade, ao mecanismo
de desenvolvimento espiritual e moral do ser humano, como singela contribuição
em favor da constelação doméstica.
Reconhecemos a singeleza das abordagens, a falta de
informação que ainda não tenham sido apresentadas por outros estudiosos das
questões abordadas, porém, considerando a nossa modesta cooperação como um
pouco de fermento, que pode fazer crescer a massa que se transformará em pão
mantenedor da vida.
Agradecendo ao Senhor Jesus pela oportunidade que nos
concede de servir na sua seara, somos sua servidora humílima.
Salvador, noite de Natal de 2007.
Joanna de Ângelis
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada por sua mensagem. Será publicada após aprovação.