sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Ritalina, uma perigosa “facilidade” para os pais



A busca por soluções fáceis, o diagnóstico equivocado e a incompreensão dos pais acerca da agitação natural das crianças elevou o Brasil ao posto de segundo maior consumidor de Ritalina do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.




O dado, do instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos, é alarmante. Ritalina é o nome comercial do metilfenidato, medicação que promete tratar o transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, TDAH, e os principais consumidores da droga tarja preta são crianças e adolescentes.

Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de 8% a 12% das crianças no mundo foram diagnosticadas com TDAH, e a suspeita dos pais de que os filhos tenham o transtorno ;e o principal motivo que os leva aos médicos. Em 2010 foram vendidas, 2,1 milhões de caixas de metilfenidato. Em 2013, foram 2,6 milhões.


Para conversar sobre o uso indiscriminado de Ritalina e sua consequência, CartaCapital entrevistou Wagner Ranna, médico psiquiatra com experiência em saúde mental da infância e docente do Sedes Sapientiae, um instituto dedicado à saúde mental, à educação e à filosofia.



Eis a entrevista.


O Brasil é o segundo maior consumidor de Ritalina do mundo, A que se deve isso?


No Brasil, a rede voltada para assistência aos problemas de saúde mental da criança e do adolescente é muito precária – o que não é privilégio do Brasil, este problema afeta a quase todos os países. As crianças com dificuldades de comportamento, agitadas, e irrequietas são vistas como doentes pelos profissionais da psiquiatria biológica e da neurociência, e então eles receitam remédios. Como consequência, temos um número elevadíssimo de crianças recebendo medicação, mas sem se discutir se e a ela é mesmo necessária ou se é melhor forma de cuidado.


Na visão do nosso grupo de trabalho no Sedes Sapientiae, que tem um histórico no cuidado com a saúde mental da criança, é de tentar entender o sofrimento psíquico e os problemas de comportamento. E não ver isso de pronto como um problema, porque a maioria são só crianças agitadas. E, no mundo da rapidez, ironicamente, elas são colocadas como doentes. Estamos desperdiçando jovens que poderiam ser sujeitos muito ágeis, como atletas e músicos.


Há efeitos colaterais no uso do remédio?


Além de causas dependência, a Ritalina provoca muitos outros efeito colaterais: as crianças emagrecem, tem insônia, podem ter dor de cabeça e enurese (incontinência urinária). E, apesar de sua fama, não tenho uma experiência de eficácia da droga, mesmo em casos em que ela deveria ser usada. Percebo que o trabalho de terapia, de orientação e cuidado real com a criança dá muito mais resultado.


Começamos a passar para a criança a cultura de que um comprimido resolve tudo na vida, de que não existe mais soluções pelo pensamento, pela conversa, pelo afeto e pela compreensão. O mundo todo é agitado, as pessoas são desatenciosas umas com as outras, e as crianças é que acabam tachadas de hiperativas. 


Outra coisa, as crianças falam assim para mim: “eu sou um TDAH” (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) ou “eu sou o da Ritalina”. Elas se colocam nesse lugar de alguém doente, com um déficit. A vida deles vira isso. 


Tratar com drogas as crianças agitadas ou com dificuldade de aprendizagem é deixar de questionar o método de ensino, o consenso da escola, e a subjetividade da criança diante do aprendizado.

É uma atitude muito imediatista.
 

E quais são as alternativas ao tratamento com a droga?


Tenho visto muitas crianças que, por trás da agitação, estão submetidas a uma violência, um abuso, ou a uma situação psicopedagógica não adequada. Colocar tudo como sendo um problema do cérebro da criança é muito antiético, é não levar em conta sofrimentos e as necessidades que ela está expressando.


Por exemplo, outro dia atendi uma menina que a mãe dizia ser hiperativa e precisava de Ritalina. Em cinco minutos de conversa descobri que ela tinha vivido uma situação em que o pai tentou matar a mãe. Essa criança estava angustiada, não era hiperatividade.


É claro que cada caso é um caso, há crianças realmente hiperativas e que precisam de um cuidado. Ainda assim tem muitas medicadas de maneira incorreta. E estamos vivendo uma epidemia de transtornos, ou supostos transtornos. Então além dessa medicalização excessiva, há uma falta de projetos terapêuticos para o sofrimento psíquico na infância, que é grande.  Isso facilita a medicalização da infância, pois sem equipes treinadas é mais fácil só dar o remédio.
 

Há quem exagere ou finja sintomas para conseguir a receita?


Sou totalmente contrário o uso de questionários com pontos para o diagnóstico de sofrimento psíquicos (como fazem muitos psiquiatras). Isso não é ver a criança eticamente. E os adolescentes podem fingir mesmo, porque querem tomar Ritalina para ter um bom desempenho na prova, ter mais energia para estudar.


A Ritalina é uma anfetamina associada a drogas com ação na atividade cerebral. A cocaína e as anfetaminas são consumidas por atletas que querem mais rapidez, pelos executivos que querem ficar acordados para trabalhar mais, pelos motoristas que querem fazer uma viagem e não dormir. É um verdadeiro doping.


A reportagem é de Ingrid Matuoka, publicitária por CartaCapital, 05-10-2015.



Extraído http://www.jornalstop.com.br/ritalina-uma-perigosa-facilidade-para-os-pais/






sábado, 24 de agosto de 2019

Pequeno Espírita

Os animais em sua evolução serão como nós, humanos, isto é, estão evoluindo e um dia chegarão a ser humanos?

Por isso são nossos irmãozinho mais novos e merecem todo cuidado e respeito.

 Extraído http://www.oconsolador.com.br/ano13/633/cartas.html


segunda-feira, 19 de agosto de 2019

COISAS PARA DESAPRENDER



As crianças não vêm com esses bem acabados folhetos impressos que explicam minuciosamente como funcionam os aparelhos que adquirimos nas lojas. Não trazem um manual de instruções, que ensine como devemos abrir o pacote, tirar o aparelho da caixa, instalá-lo e fazê-lo funcionar. Também não trazem certificado de garantia, que se possa apresentar ao representante autorizado, juntamente com a nota fiscal, caso haja algum defeito de fabricação.

Dizem até que um jovem pai, que acaba de retirar mulher e filho do hospital, levou-o de volta, para reclamar, porque ele estava com um vazamento...

Com o tempo, vamos aprendendo a resolver os pequenos problemas que surgem. E os grande também, se e quando surgirem. Nós nos valemos da experiência dos mais velhos, geralmente uma das avós, ou ambas, tias, vizinhas e, naturalmente, dos médicos, quando a situação assim exige.

Para facilitar as coisas, comprei o livro de um famoso pediatra da época, que substituía razoavelmente bem os manuais de instruções que acompanham os eletrodomésticos de hoje e ajudam a solucionar ou prevenir alguns dos "enguiço"mais comuns. Recebíamos dele ensinamentos minuciosos sobre a maneira de cuidar do bebê durante seus primeiros dias de vida: o banho, o sono, a roupa, a alimentação, bem como a interpretação de certos sinais típicos que marcam as diferentes etapas de  desenvolvimento: os primeiros passos, os dentinhos de leite, peso, altura, hábitos de higiene e inúmeros outros indicadores.

Toda essa logística tem por objetivo proporcionar aos pais uma criança sadia para que nela se desenvolvam as faculdades mais nobres de inteligência, vivacidade e boas maneiras. Para que ela seja, enfim. uma pessoa útil a si mesma e à sociedade na qual está começando a viver, e na qual vai se envolvendo, cada vez mais, na escola, em seus diversos níveis, e depois, no trabalho, no relacionamento com  a família, com os amigos e tudo mais.

Realmente, todos esses elementos são da mais alta relevância e de imediata aplicação naquilo que constitui praticamente um projeto, que é o de criar uma criança proporcionando-lhe todos os elementos possíveis a uma vida decente, equilibrada, normal e feliz. Isso, contudo, é apenas parte do problema, uma vez que continuam sem resposta numerosas questões que podem ocorrer à mãe e ao pai da criança. Em suma, temos livros de obstetras, psicólogos, psiquiatra e pediatra, mas onde encontram obras escritas por "espiritatras"? 

Enquanto o problema consiste apenas em dar este alimento ou aquele, dormir à tarde ou de manhã, vestir ou não o agasalho, ventilar o quarto de dormir, tomar sol, tratar um resfriado ou dor de barriga, as opiniões variam, mas podemos chegar a um consenso, adaptado às nossas próprias condições e, obviamente, às do bebê. Acabamos acertando com o alimento que melhor "concorda"com ele, como dizem os americanos, ou com seus hábitos de repouso e atividade, bem como o tipo de roupinha que melhor lhe convém. Mas, e ele mesmo, como pessoa humana, como individualidade, como é? Por que é temperamental ou apático? O que o faz pacífico e sereno ou agitado e mal humorado?  Por que ele gosta de algumas pessoas e não de outras? Por que chora tanto ou não chora, a não se excepcialmente? Por que custa tanto a falar ou a andar, ou a aprender a ler? E, mais, tarde, por que gosta de matemática e não de línguas, ou vice-versa? E, acima de tudo, quando se tem dois ou mais filhos, por que são tão diferentes entre si, uma vez que gerados todos a partir do mesmo conjunto de genes e criados, no lar, sob idênticas ou muito semelhantes condições?

Afinal, quem são nossos filhos, o que representam em nossas vidas e o que representamos nós na vida deles, além do simples relacionamento pais e filhos?

Longe de respostas mais claras e objetivas, ou pelo menos, de hipóteses orientadoras, o que observamos, no dia-a-dia da lutas e alegrias da vida, é uma coletâneas de clichês obsoletos, ou seja, ideias preconcebidas e cristalizadas que de tão repetidas assumiram status de verdade inquestionáveis, que vamos aceitando meio desatentos, sem procurar examiná-las em profundidade.

Por exemplo: o Marquinho "puxou"o jeito enérgico da mão, ou a Mônica herdou a inteligência do pai, ou o gosto da tia pelas artes plásticas, ou, ainda, o temperamento da avó Adelaide.

A primeira coisa a desaprender com relação às crianças é a de que elas não herdam características psicológicas, como inteligência, dotes artísticos, temperamento, bom ou mal gosto, simpatia ou antipatia, doçura ou agressividade. Cada ser é único, em sua estrutura psicológica, preferências, inclinações e idiossincrasias. Somente características físicas são geneticamente transmissíveis: cor da pele, dos olhos, ou dos cabelos, tendência a esta ou aquela conformação física, predisposição a esta ou aquela enfermidade, ou a uma saúde mais estável, traços fisionômicos e coisas dessa ordem.

Quando ao mais, não. Pais inteligentíssimos podem ter filhos medíocres, tanto quanto pais aparentemente pouco dotados podem ter filhos geniais. Pessoas pacíficas geram filhos turbulentos e, vice-versa, pais desarmonizados produzem crianças excelentes, equilibradas e sensatas.

Qualquer um de nós poderá citar pelo menos uma dúzia de exemplo de seu conhecimento para testemunhar a exatidão dessas afirmativas.

Por isso, repetimos, cada criança, cada pessoa, é única, é diferente, e embora possam ter, duas ou mais, certas características em comum ou muito semelhantes, cada físico, diferenças fundamentais de temperamento e caráter que os identificam com precisão, como indivíduos perfeitamente autônomos singulares.

Vamos logo, portanto, definir um importante aspecto: os pais produzem apenas o corpo físico dos filhos, não o espírito (ou alma) deles.

Outra coisa convém desaprender logo, para abrir espaço para novos conceitos, mais inteligentes, racionais e competentes acerca da vida. Esses espíritos ou almas que nos são confiados, já embalados em corpos físicos, que nós mesmos lhes proporcionamos, através do processo gerador, não são criados novinhos, sem passado e sem história! Eles já existiam antes, em algum lugar, tem uma biografia pessoal, trazem vivências e experiências e aqui aportam para reviver e não para viver. Estão, portanto renascendo e não apenas nascendo.

É espantosa a reação que esta ideia simples e genuína tem encontrado para impor-se como verdade que é. O próprio Cristo ensinou que João Batista era o profeta Elias renascido, embora não reconhecido pelos seus contemporâneos. Em outra passagem, falando a Nicodemos, admirou-se de que o ilustrado membro do Sinédrio ignorasse verdade tão elementar, ou seja, a de que é preciso nascer de novo para alcançar o paz espiritual, à qual Jesus dava o nome de Reino de Deus ou Reino dos Céus.

Eis, portanto, a pura, simples e inquestionável verdade:nossos filhos, tanto quanto nós mesmos, são seres humanos que já viveram antes. Trazem em si todo um passado mais ou menos longo de experiências, equívocos, conquistas, realizações e, consequentemente, um programa a executar na vida que reiniciam junto de nós. Da mesma forma que não nos desintegramos em nada ao morrer, também não viermos do nada quando nascemos de novo na carne. Tudo é continuidade, etapas que se sucedem, em ciclos alternados, aqui e além.

Anotem ai, portanto: somos todos seres criados por Deus, sim, mas há muito, muito tempo, e não no momento da concepção ou na hora do nascimento, para "ocupar"um novo corpo físico.

Esta ideia constitui a viga mestra de toda a arquitetura da vida, o conceito-diretor que nos leva ao entendimento dos seus enigmas, mistérios e belezas imortais. E, portanto, esta ideia, este conceito, esta verdade que escolhemos para alicerçar este livro, a fim de ordenar o que precisamos saber - dentro das ;imitações humanas - para entender a vida e, também, ajudar aqueles que nos cercam a entendê-la melhor. Tudo aquilo, mas tudo mesmo, que se chocar com esta verdade, tem de ser desaprendido, se é que estamos realmente empenhados em fazer da nossa vida um projeto inteligente de evolução rumo à perfeição espiritual.

Se o bisavô Joaquim foi um sujeito ranzinza e impertinente e vier renascer como seu filho, provavelmente você vai ter uma criança um pouco difícil e impaciente (a não ser que ele tenha se modificado um pouco nesse ínterim). Da mesma forma que, se uma pessoa de bom coração e pacífica renascer com sua filha ou filho, você terá uma criança calma, bem-humorada, simpática, desde os primeiros momentos de vida, ainda que ocasionalmente apronte uma choradeira homérica se estiver com fome, sentindo calor, ou frio, ou porque deseja que suas fraldinhas sejam trocadas.

De que outra maneira iria ela pedir isso? Se lhe fosse possível falar, ela diria, educadamente - Mamãe, você quer fazer o favor de trocar minhas fraldas? - Ou - você não está se esquecendo de me dar a papinha das dez horas?

Deixe-me, pois, dizer-lhe, para ajudar a amar o esquema de como cuidar do seu bebê: ele é um espírito adulto, inteligente e experimentado, aprisionado em um corpinho físico que ainda não lhe proporciona as condições mínimas de que precisa para expressar todo seu potencial. Isto se dará com o tempo, como você poderá observar, à medida que a criança vai crescendo e se revelando como realmente é.

Então, sim, quem disser que ela "puxou"aos birrento bisavô Joaquim é possível que tenha razão, porque, de fato, pode ser o próprio, de volta. Ou se ela for aquele remoto parente genial que escreveu livros, compôs música ou foi um brilhante político, então você terá o privilégio e a responsabilidade de ajudá-la a expressar-se novamente como ser humano; provavelmente, em outro campo de atividade. Em verdade, responsabilidade você tem sempre, seja qual for o filho ou filha, brilhante ou deficiente, amigo ou não tão amigo, sadio ou doente, compreensivo ou rebelde.

Por alguma razão, que um dia você saberá, ele foi encaminhado, atraído ou convidado para vir para sua companhia. Dificilmente será um estanho total, cujos caminhos jamais tenham se cruzados com os seus, no passado. Não se esqueça de que também você é um ser renascido.

Extraído do livro Nossos Filhos são Espíritos - Ermínio Correa Miranda


domingo, 18 de agosto de 2019

A INFÂNCIA


Comunicação espontânea do Sr. Nélo, médium, lida na Sociedade em 14 de janeiro de 1859.
Não conheceis o segredo que as crianças escondem em sua inocência; não sabeis o que são o que foram, nem o que serão; todavia, as amais, as quereis bem como se fossem uma parte de vós mesmos, de tal modo que o amor da mãe por seus filhos é reputado o maior que um ser possa ter por um outro ser. De onde provém essa doce afeição, essa terna benevolência que os próprios estranhos sentem para com uma criança? O sabeis? Não; é isso que vou vos explicar.

As crianças são seres que Deus envia em novas existências; e para que não lhe possam lançar em rosto uma severidade muito grande, lhes deu todas as aparências da inocência; mesmo numa criança de uma maldade natural são cobertos seus defeitos com a não consciência de seus atos. Essa inocência não é uma superioridade real sobre o que eram antes; é a imagem do que deveriam ser, e se não o são, é unicamente sobre elas que disso recai a pena.

Mas não foi somente por elas que Deus lhes deu esse aspecto, foi também, e, sobretudo, pelos seus pais, cujo amor é necessário à sua fraqueza, e esse amor seria singularmente enfraquecido à visão de um caráter colérico e rude, ao passo que crendo seus folhos bons e dóceis, lhes dão todas as suas afeições, e os cercam com os mais delicados cuidados. Mas quando as crianças não têm mais necessidade dessa proteção, dessa assistência que lhes foi dada durante quinze a vinte anos, seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez; permanece bom se era fundamentalmente bom, mas se irisa sempre de nuanças que estavam escondidas pela primeira infância.

Vedes que os caminhos de Deus são sempre os melhores, e que, quando se tem o coração puro, é fácil conceber sua explicação.

Com efeito, pensai bem que o Espírito, das crianças que nascem entre vós, pode vir de um mundo onde tomou hábitos muito diferentes; como quereríeis que fosse ao vosso meio, esse novo ser, que vem com paixões diferentes daquelas que possuís, com inclinações, gostos inteiramente opostos aos vossos; como quereríeis que se incorporasse em vossas fileiras de outro modo do que Deus quis, quer dizer, pela peneira da infância? Ali se confundem todos os pensamentos, todos os caracteres, todas as variedades de seres engendrados por essa multidão de mundos nos quais crescem as criaturas. E vós mesmos, em morrendo, vos encontrareis em uma espécie de infância, no meio de novos irmãos; e na vossa nova existência não terrestre, ignorais os hábitos, os costumes, as relações desse mundo, novo para vós; manejareis com dificuldade uma língua que não estais habituado a falar, língua mais viva do que não é hoje vosso pensamento.

A infância tem, ainda, outra utilidade; os Espíritos não entram na vida corpórea senão para se aperfeiçoarem, se melhorarem; a fraqueza da juventude os tornam flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência, e daqueles que os devem fazer progredir; é, então, que se pode reformar seus caráter e reprimir seus pendores; tal é o dever que Deus confiou aos seus pais, missão sagrada pela qual terão de responder.

É assim que a infância é, não somente útil, necessária, indispensável, mas, ainda, a consequência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo.

Nota: Chamamos a atenção dos nossos leitores sobre essa notável, dissertação, cuja alta importância filosófica será facilmente compreendida. Que da mais belo, de mais grandioso, que essa solidariedade que existe entre todos os mundos! Que de mais próprio para nos dar uma ideia da bondade e da majestade de Deus! A Humanidade cresce com tais pensamentos, ao passo que nós a explicamos a reduzindo às mesquinhas proporções de nossa vida efêmera e de nosso mundo, imperceptível entre os mundos.

Extraído: REVISTA ESPÍRITA - Jornal de Estudos Psicológicos - Coletânea Francesa – 1859 - ESCOLHOS DOS MÉDIUNS - DISSERTAÇÃO DE ALÉM-TÚMULO.



terça-feira, 13 de agosto de 2019

AS CRIANÇAS E SEUS AMIGOS INVISÍVEIS





Segundo diversos psicólogos, a resposta é sim, e o percentual dos casos apurados em todo o mundo revela que o fato é mais comum do que se pensa, ou seja, não é uma ou outra criança que diz conversar com amigos que ninguém vê. O seu número seria muito grande.


A questão que se impõe é, portanto, outra: 

– Os amigos supostamente imaginários são fruto da imaginação infantil ou seres reais que os adultos não veem mas que as crianças veem e que com elas conversam, como fazem os amiguinhos encarnados?


A vidência mediúnica, que Allan Kardec estudou em minúcias nos itens 100 e 190 de O Livro dos Médiuns, é assunto pacífico no campo da fenomenologia espírita.


Essa faculdade, que depende da organização física do médium, permite a este ver os Espíritos em estado de vigília, ou seja, estando o sensitivo perfeitamente acordado. Como os fenômenos mediúnicos não ocorrem a revelia das autoridades espirituais superiores, é claro que há Espíritos que se deixam ver e há outros que não são vistos, o que não significa que estejamos sós, porquanto os desencarnados habitualmente nos rodeiam. 


A propósito de um estudo feito pelo Dr. H. Bouley sobre a evolução da raiva nos cães, que experimentam nas intermitências dos acessos uma espécie de delírio, Kardec examinou o fenômeno das visões de seres desencarnados que ocorre com as criancinhas e com certos animais, sobretudo o cão e o cavalo, concluindo que, no tocante às crianças, a vidência mediúnica parece ser frequente e mesmo geral. (Leia sobre o assunto a Revista Espírita de 1865, pp. 260 a 264.)


A existência da mediunidade de vidência, informam os Espíritos, foi a primeira de todas as faculdades dadas ao homem para se corresponder com o mundo invisível. Em todos os tempos e em todos os povos, as crenças religiosas se estabeleceram sobre revelações de visionários ou médiuns videntes. A Revista Espírita de 1866, págs. 120 a 123, trata do assunto.


Um fato de vidência numa criança de quatro anos, verificado em Caen, levou Kardec a reconhecer que a mediunidade de vidência não apenas parecia mas era, efetivamente, muito comum nas crianças, e isso, segundo o Codificador, não deixava de ser providencial. 

“Ao sair da vida espiritual, explicou Kardec, os guias da criança acabam de a conduzir ao porto de desembarque para o mundo terreno, como vêm buscá-la em seu retorno. A elas se mostram nos primeiros tempos, para que não haja transição muito brusca; depois se apagam pouco a pouco, à medida que a criança cresce e pode agir em virtude de seu livre arbítrio.” (Cf. Revista Espírita de 1866, pp. 286 e 287.)


Ninguém, pois, se assuste quando vir que seu filho anda a conversar com “amigos” que ele diz ver e que, no entanto, não vemos. 


Até os sete anos de idade, o Espírito da criança encontra-se em fase de adaptação para a nova existência e ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica, fato que lhe permite emancipar-se e, eventualmente, ver vultos desencarnados que lhe fazem companhia, o que nos permite deduzir que os amigos imaginários das nossas crianças só o são na aparência. Eles não são imaginários, mas tão-somente invisíveis.

Extraído da Revista O Consolador ano 2  numero 62









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